Atlas
Desde os anos sessenta, os artistas europeus têm produzido trabalhos de acumulação que podem inserir-se ou não numa rede. Contudo, reconhecemos anteriormente trabalhos importantes neste campo de acção visual, como o Media Scrap Book (1933), de Hannah Höch, em que a artista organiza e expõe uma grande variedade de fotografias como se fosse um arquivo. Como no Mnemosyne Atlas (1927), de Aby Warburg, no qual o historiador constrói um modelo mnemónico, em termos de traçado através dos vários layers de transmissão cultural.
“Atlas o titã da mitologia grega que segura o universo no limiar em que o dia e a noite se encontram. Mais tarde, no século XIX, o termo foi progressivamente usado para identificar qualquer manifestação tabular do conhecimento sistematizado e pode-se encontrar um atlas em quase todos os campos das ciências empíricas: um atlas da astronomia, de anatomia, geografia e etnografia...”[1]
O Atlas, de Gerhard Richter refere-se aos antigos mapas-múndi dos mercadores do século XVI; é um objecto independente, uma viagem biográfica, um instrumento que facilita o trabalho do artista, um exercício de conteúdo e de forma. Seguindo Umberto Eco, é uma obra aberta que acompanha e complementa as pinturas do artista. As fotografias, de algum modo, relacionam-se com a ideia preconcebida de pintura, combinando diferentes temáticas. “O Atlas de Richter parece considerar a fotografia e as suas várias práticas, como sistemas de dominação ideológica e, mais precisamente, como um dos instrumentos com os quais a anomia colectiva, a amnésia e a repressão, estão socialmente inscritos.” [2]Deste modo através da acumulação, justapõe a construção de uma identidade pública à construção da identidade privada.