Gabinete de Curiosidades

Por volta de 1600, apareceram em Antuérpia, os Gabinetes de Curiosidades. A curiosidade é a razão da cultura, nos séculos XVI e XVII. O desejo de se maravilhar é, assim, representado por alegorias e por temas: do gosto, do tacto, da visão; a representação dos quatro continentes até então conhecidos; os quatro elementos (terra, água, ar e fogo); os temperamentos; os climas; as idades da vida, etc.

Estas colecções são inicialmente organizadas segundo dois grandes eixos: a “naturalia” (coisas da natureza) e a “artificialia” (objectos criados pelo homem). É a partir desta época, com a descoberta dos novos territórios e o desenvolvimento da cartografia, que a catalogação das colecções se faz em função de duas categorias de peças: objectos antigos e objectos exóticos.

Para lá da função utilitária, os objectos são vistos pelo seu significado: são objectos de arte. Os gabinetes aparecem numa época em que a ciência se preocupava não com as leis da natureza e as suas ramificações, mas prioritariamente com o acidental. Os curiosos dão a impressão de quererem possuir a infinita riqueza do mundo e os produtos mais bizarros.

Os gabinetes de curiosidades são cavernas de colecções que apresentam uma multitude de objectos raros e estranhos, amálgama tida como um microcosmos ou resumo do mundo. Ao coleccionar objectos cada vez mais bizarros, os curiosos acreditam surpreender-se com os processos da criação do mundo. O objectivo dos curiosos é penetrar nos segredos do universo. Os coleccionadores criam o seu próprio “Theatrum Mundi”, como forma de organizar a sua própria experiência. O gabinete permite realizar analogias e correspondências; é um privilégio do desejo de ver, de apreender ou de possuir coisas belas, novas, secretas, raras e singulares.