Artista vs. Arte

O artista contemporâneo é hoje em dia uma figura institucional. Quando crítica as instituições, faz sempre dentro do establishment, o artista não passa de um mero empregado com contrato que cumpre o seu papel no mundo artístico. Esse mundo de arte é igual em qualquer parte do mundo. As galerias de arte criaram uma pequena rede elitista para se promoverem a si próprias e aos artistas que representam, através de estratégias de comunicação e de marketing com o único objectivo de aumentar os preços. Ser “reconhecido” é estar dentro desta rede de mercado internacional. O “verdadeiro artista” é aquele que é competitivo e tem sucesso, iniciativa, dinheiro, no fundo, tem que renegar a sua condição de artista e tornar-se num “verdadeiro” empresário. O artista contemporâneo está em sintonia com o gosto do público, a moda, o design. É aquele que é uma “revelação artística” levado a cabo pelas estratégias de promoção. O artista agora e no futuro, encontrará unicamente o caminho comercial.

A arte dilui-se, as fronteiras da arte e da moda, da vanguarda e do comercial desvanecem. A arte contemporânea passa definitivamente pela moda, tal e qual como “O Rei vai nu”. Esta é uma arte que é validada no seu tempo, é superficial, de espírito internacional, uma amálgama, como uma nova forma de academismo. O universo moderno da cultura desde o século XIX, construí-se em volta de uma oposição a alta cultura e a baixa cultura, cultura pura e a cultura comercial, arte e mercado. Agora tudo se esfuma e é igual, perante o marketing e a comercialização generalizada. A marca é que vende, o artista não passa de mais um produto. A arte contemporânea tornou-se um produto dos dealers internacionais, é para eles especularem que este mercado existe. A cultura como via do espírito acabou, há muito. Assistimos à indiferenciação cultural, à conformidade e à monotonia. Estas são as manifestações artísticas contemporâneas. As vanguardas extinguiram-se, os estilos desapareceram, tudo aquilo que o artista exprimia dissolveu-se, a sua singularidade acabou, o triunfo do artista é hoje puro comércio global. Sob o reinado da arte contemporânea da "igualdade de direitos estéticos" e da liberdade da experimentação, este único regime por mais paradoxal que possa ser é uma forma de estética totalitária, sustentada pelo mercado.

A economia tornou-se cultura, isto é a negação da condição humana.