Labirinto

No mundo dos labirintos as coisas nunca são como se apresentam. O labirinto é uma edificação organizada em que cada um decide o seu próprio rumo. O labirinto representa o tempo, o caminho da vida, tortuoso e impreciso. A ideia de labirinto expressa-se de duas formas: o quadrado e o círculo. Ambas constituem configurações de uma rede de percursos entrelaçados uns nos outros.

O labirinto assumia significado mítico para os nossos antepassados. Na tribo Hopi, o símbolo do labirinto refere-se ao corpo Terra-Mãe, desde sempre presente no mundo das grutas e das cavernas. A cerimónia denominada Wúwuchim consistia na aglutinação de duas realidades, o símbolo labirinto era gravado em madeira e posteriormente colocado defronte de um altar da tribo. Este conjunto resultava significativamente num símbolo designado “mãe e filho”. É patente a ideia de renascimento espiritual quando se representa um mundo que precede outro. É também o sentido de continuação do mistério da vida.

Os labirintos também foram palco de acontecimentos sombrios. Muitos deles ladearam a forca. O condenado percorria o labirinto supostamente para libertar a alma nos seus derradeiros momentos de vida.

O labirinto de erva, com a respectiva complexidade, podia afirmar a riqueza de uma cidade. Na Idade Média os labirintos eram centro da vida social das comunidades. Nas aldeias inglesas, na Primavera, dançava-se à volta dos labirintos. Como celebração da primavera e da jovialidade, as origens destes enredos físicos remontam aos ritos ancestrais da sexualidade e fertilidade. O centro do labirinto representava o útero materno. Girar à sua volta, nos caminhos concêntricos do labirinto, fazia apelo à intimidade dos jovens dançarinos.

A partir do Renascimento, o jardim assume a forma de labirinto, a tal ponto que, nos séculos XVI e XVII o grande fascínio e interesse por estes lugares misteriosos levaram à sua integração na cultura arquitectónica da Europa. Os labirintos evoluíram para utilizações mais populares. No século XVIII, os labirintos de sebes vivas eram plantados e desbastados para ficarem com pouca altura de modo a facilitar o caminho a quem passeava no jardim. Porém às vezes cresciam livremente, já que a ocultação favorecia a intimidade dos amantes e o prazer dos encontros proibidos.

O labirinto e seu desafio radicam na ultrapassagem da complexa teia de relações. O seu mistério configura-se pelo papel activo de todos na busca de saídas. A arquitectura que aparentemente confunde os homens pode e deve constituir lugar de diversão e de repouso.