Canyon del Muerto

A maior extensão de areia do mundo dá pelo nome de Terra Vazia e encontra-se no deserto da Arábia. É nestes lugares, que outrora foram florestas tropicais luxuriantes, que hoje encontramos registos da passagem humana. O Canyon del Muerto é formado por diversas rochas que se erguem majestosamente. Terra vazia, que a um primeiro olhar pode parecer um lugar insólito, transforma-se à nossa aproximação. O que descobrimos é exactamente o oposto a esse primeiro grande plano de monumentos rochosos que observámos: a existência incontornável de vida. No Canyon del Muerto, por entre os intermináveis planaltos e desfiladeiros vive um povo orgulhoso, os índios Navajos, que habitam densamente essa região desértica. Os índios sempre tiveram um grande respeito pela terra, pelos animais, pelos objectos que constituem o território onde vivem, nunca impuseram a sua vontade ao que os rodeava, vivem com respeito pela natureza e em união com ela. Chiparopai, uma anciã yuma refere-se às transformações que os brancos operaram quando chegaram àqueles territórios. Este sentimento expressa bem o estado de alma, de algum modo, de todos os índios que viram a sua vida vivida em conformidade com a natureza, desaparecer bruscamente: “É bem verdade – sabemos que quando vindes, nós morremos”. [1]

É no deserto que o ser humano se encontra. É perante a filosofia do deserto que as grandes questões do homem ainda são colocadas, esse homem que fragmentado em mil partes, deve enfrentar o exílio, porque inevitavelmente tem de atravessar as areias da repetida fragilidade de que é feita a condição humana. Esse estrangeiro sem pátria encontrará o seu destino final no calor abrasador da areia.

[1] TERI C. McLUHAN – A Fala do Índio: A doença aparece convosco (o homem branco) e centenas dentre nós morrem. Aonde está a nossa força?... Antigamente éramos fortes. Costumávamos caçar e pescar. Cultivávamos e colhíamos o nosso milho e os nossos melões, comíamos favas. Agora tudo mudou. Comemos o sustento do homem branco, e isso enfraquece-nos. Antigamente, todos os dias, fosse verão ou inverno, íamos até às margens do rio para ali nos banharmos. Isso fortificava-nos e enrijava-nos a pele. Mas os colonos brancos sentiam-se chocados ao verem os índios nus, e por isso agora temos de afastar. Outrora, usávamos calções e aventais de cascas e de caniços. Trabalhávamos durante toda a invernia debaixo do vento – de braços e pernas nus, e nunca tínhamos frio. Agora, porém, quando o vento assopra lá do cimo das montanhas, põe-nos a tossir.