Museu

A mítica biblioteca de Alexandria, surgida na Escola de Aristóteles, no tempo dos primeiros Ptolomeus, era um gigantesco monumento helenístico, que integrava o primeiro instituto de investigação científica – O Museu, onde um colégio de eruditos, consagrados ao estudo (Matemáticos, Astrónomos, Geógrafos, Filósofos e Poetas), reflectiam sobre a condição humana.

Na Antiguidade, os museus eram locais consagrados ao culto das nove Musas, filhas de Zeus: Caliope (Eloquência), Clio (História), Euterpe (Música), Polymnia (Poesia), Erato (Elegia), Thalia (Comédia), Melpomène (Tragédia), Urania (Astronomia) e Terpsichore (Dança).

No Renascimento, a pintura foi, porventura, um processo de conhecimento, mas também uma manifestação de posse: graças às fortunas acumuladas, os ricos mercadores italianos encaravam os quadros como valores confirmativos da propriedade de tudo o que era belo e desejável neste mundo. Assim surgem as primeiras colecções privadas, extremamente raras como, por exemplo, a dos retratos de homens ilustres dos Médicis. As pinturas, num palácio florentino, representavam uma espécie de microcosmos em que o proprietário recriava as características do seu próprio mundo. Se, inicialmente, a biblioteca-museu era fonte de saberes, torna-se agora colecção, afirmação do poder vigente.

A cultura de museu tem a sua origem em 1471, quando esculturas antigas são novamente colocadas no Palácio dos Conservadores, na colina do Capitólio. Estas obras são, deste modo, restituídas ao povo romano para dar testemunho dos seus criadores e da continuidade de Roma. Esta função de identidade, acompanha a colecção desde as suas origens. O modelo italiano não se esgota na aquisição e preservação de uma herança, mas estabelece os fundamentos políticos e jurídicos do museu.

Existem diferenças entre a inspiração do modelo do museu italiano e a do museu alemão que toma forma a partir de 1570, com o Duque Alberto V, da Baviera. Este começa a adquirir antiguidades, em Itália, a fim de obter uma colecção cultural e prestigiosa. O modelo alemão representa a glorificação do museu pela conquista do gosto e do dinheiro. As crises do século XVII impedem os príncipes alemães de adquirir mais colecções. Exceptua-se o arquiduque Léopold Guillaume de Habsbourg, que escolhe David Teniers para instalar, na sua residência de Bruxelas, a sua colecção, de obras italianas e flamengas, e define uma política verdadeiramente cultural. Os museus surgem, assim, sob o signo das “belas-artes”, constituindo um sistema que se forma a par da instituição académica.