Merzbau

É o título do trabalho de Schwitters, realizado em Hanover, a partir de 1923, e destruído em 1943. Funcionou como um espaço irracional, onde se pôde assistir, ao longo de treze anos, a um work in progress. Começando no estúdio, alargou-se a toda a sua casa. Nas suas intermináveis deambulações pela cidade, Schwitters providenciava os materiais para o desenvolvimento do seu ambiente. Diversos cenários iam sendo reformulados com o tempo. O trabalho crescia como cresce uma cidade. Toda a aparência era cuidada ao pormenor. Se alguma peça colocada não se integrava no todo, era desmantelada, como acontece nas cidades cujas Câmaras Municipais aprovam ou não a viabilidade dos projectos. Ao longo do trabalho, Schwitters, por vezes, concluía que certas peças já não funcionavam, parecendo mais relíquias do passado, edifícios antigos, descaracterizados. Nesses casos, o artista cobria-as com novas peças, apagando parcialmente o seu registo. O desenvolvimento deste processo gerou peças cada vez maiores, (vales, caves, grutas), a que o artista atribuia títulos: The Sex Crime Cave, The Cathedral of Erotic Misery, The Grotto of Love; The Niebelungen Cave, The Goethe Cave, The Cave of Depreciated Heroes. Cada “zona” tinha uma vida própria, tal como se de um projecto urbanístico se tratasse. A justaposição de diversos materiais criava formas que se expandiam em todas as direcções, subindo pelas paredes até ao tecto. Devido às características específicas deste trabalho só era possível vê-lo e senti-lo, no seu desenvolvimento, se o espectador visitasse regularmente a instalação.

A casa de Schwitters é um trabalho autobiográfico, que flutua e é instável, enquanto as exposições clássicas enfatizam a ordem e a estabilidade. Merzbau é uma organização imprevisível. Em vez de certezas, a instalação expressa possíveis conexões e apresenta propostas combinadas com incertezas. A instalação parece ter vida própria, como um sistema evolutivo, complexo e dinâmico que vai aprendendo na sua própria construção. Recusando a homogeneidade das exposições convencionais, surge um trabalho que estende tentáculos a outros trabalhos, numa progressão contínua, uma instalação dentro de várias instalações.