O Jardim dos Súplicíos

"Aos Padres, aos soldados, aos juízes, aos homens que educam, dirigem e governam os homens, eu dedico estas páginas de Morte e Sangue”

Octave Mirbeau

“Le Jardin des Supplices” (1899) de Octave Mirbeau (1848-1917), vem na tradição literária francesa de autores como Lautréamont, Sade, Céline e Bataille, o seu extremismo, por vezes, tem a habilidade para lidar com os horrores cometidos no tempo. O Romance começa como uma crítica à democracia ocidental, mas transforma-se numa obra de erotismo violento. Na primeira parte, um grupo de homens educados, moralistas, poetas, filósofos e médicos, discutem o crime. Um deles, garante que as mulheres são as assassinas mais cruéis de todas as criaturas da terra, e para provar o seu ponto de vista, conta uma viagem que fez para o longínquo Oriente. A sua história coloca-nos num jardim chinês, na companhia de uma sensual e depravada mulher europeia, por quem ele tem uma paixão. As curtas horas que o casal passa no jardim constituem o cerne do romance. No jardim, para além de encontramos diversos tipos de flores, extremamente belas, encontramos prisioneiros a quem são cortadas tiras de pele do seu corpo e mantidos vivos. Outras vezes são comidos por ratos, são cozidos ou mesmo cortados aos pedaços. Na China a tortura tem sido praticada com grande diligência, tal como Octave Mirbeau expõe, de forma “requintada”, o “sublime” aspecto da violência e dor na sua prosa, carregando-a de intensidade. As cenas, que se passam entre sangue e flores são extremas, levando o leitor a sentir repulsa ou fascínio, ou até podendo ficar como Clara, a anti-heroína de Mirbeau, delirante e exausta. Esta novela pode ser vista como pornográfica, misógina ou de horror, tal como o narrador diz: “O que eu vi hoje, e o que eu ouvi, existe, chora e grita para além deste jardim, o qual não passa de um mero símbolo do mundo inteiro.” “O Jardim dos Suplícios” é uma alegoria à hipocrisia da civilização europeia e aos valores morais e éticos burgueses, bem como à corrupta sociedade capitalista. Podemos enquadrar a exposição no mundo contemporâneo, no qual as “práticas” abordadas no livro ainda hoje perduram.