O Livro dos Mortos

Os Egiptólogos deram o nome de O Livro dos Mortos a uma colecção de textos hieroglíficos escritos em folhas de papiro, desenvolvidos e revistos ao longo de várias dinastias. O papiro de Ani, datado de 1240 A.C., é o mais célebre, pois chegou aos nossos dias bem preservado. Estes textos mágicos eram colocados junto ao defunto para o ajudar a passar pelos perigos do mundo subterrâneo e obter a vida eterna. Partes dos textos também podem ser encontradas nas paredes de alguns túmulos ou sarcófagos. Existem quatro versões do Livro dos Mortos. A versão da escola de Annu, da V dinastia, cognominada Heliopolitan, dá-se a conhecer através de cinco cópias inscritas nas paredes e nas passagens para os túmulos. A versão Theban, em papiro, divide-se em dois capítulos. Uma outra, mais próxima da dinastia XX, é a versão chamada Saite, onde os capítulos estão organizados por ordem. Os textos exorcizam o funeral do morto e a sua próxima vida num outro mundo.

Os textos nos sarcófagos falam da vida após a morte, a transcorrer num campo descoberto, em que tarefas agrícolas são realizadas pelos mortos por toda a eternidade. Para levar a bom termo o seu trabalho, o falecido faz-se acompanhar por pequenas figuras que representam os seus criados. Por acto de magia, estas figuras substituíam os trabalhadores que hão-de facilitar ao morto o trabalho árduo na vida post-mortem. Estes conceitos não eram incongruentes para os Egípcios, pois acreditavam que, na vida depois da morte, acederiam à eternidade acompanhados de estrelas. Ainda que confinados à câmara funerária, podiam visitar o mundo dos vivos, atravessar o céu e penetrar nas profundezas subterrâneas

Na cultura hebraica, a tradução literal da Bíblia revela o seu Livro dos Mortos, que conta a história da passagem da alma humana para além das portas da morte, e o seu subsequente julgamento, revelação, purificação e redenção. Constituído por diversas escrituras que têm conceitos chave da Kabbalah, o Livro Hebraico dos Mortos, contado no Bazakim 44, é uma parábola de visão espiritual sobre a vida e a realidade, construída através de alusões em que o mundo físico se funde com sentidos simbólicos. A Torah é o guia espiritual da alma.

O livro dos mortos do Budismo Tibetano refere-se à morte e aos seus estados intermediários e é um guia para os mortos. A primeira parte chama-se Chikhai Bardo, (isto é, “o momento da morte.”) A segunda parte tem por nome Chonyid Bardo e fala sobre os estados supervenientes à morte. A terceira parte, Sipda Bardo, debruça-se sobre o nascimento do instinto e os eventos pré-natais. O Livro dos Mortos constitui uma escritura de nome Bardo Thodol. Tradicionalmente lida em voz alta, serve de guia no momento da morte e ajuda a reconhecer a natureza da mente e a alcançar a libertação. Ensina o despertar após o despojamento do corpo, criando uma realidade própria como um sonho. Este sonho projecta-se em diversas visões, a um tempo assustadoras e belas. Deste modo, a escritura procura motivar a pessoa para a passagem ao sonho que a guiará à iluminação.