Simão do Deserto

Os santos do pilar são cristãos ascéticos que, no princípio dos dias do império bizantino, colocavam-se em cima de pilares para pregar, jejuar e rezar. Acreditavam que a mortificação dos corpos garantia a salvação das suas almas. O primeiro estilita foi provavelmente Simeão, o velho que subiu a um pilar na Síria em 423 e lá permaneceu trinta e sete anos até à sua morte. Simeão teve uma série contínua de imitadores, especialmente na Síria e na Palestina. O espírito ascético que manifestava, estimulou os homens a inventar novas formas de auto-crucificação.

Simeão, o jovem, foi outro ascético, morava perto de Antioquia e teve como contemporâneo São Alípio, cujo pilar foi erguido perto de Adrianópolis. Esteve sempre em pé durante cinquenta e três anos, quando já não pode mais, deitou-se e passou os restantes catorze anos da sua vida nesta posição. São Lucas, o filho, é outro estilita famoso que viveu no século X no Monte Olimpo. Posteriormente a austeridade extrema das vidas dos estilitas foi atenuada. Alguns construíram uma cúpula nas suas colunas, ou um abrigo, outros viviam dentro do pilar que era oco. Foram também feitas tentativas isoladas para introduzir esta forma de ascese no ocidente, mas não vingou. A Leste foram encontrados eremitas até ao século XII na igreja ortodoxa russa, que durou até 1461.

Luis Buñuel (1900-1983) apropriou-se deste modo de vida ascética para realizar o filme “Simão do Deserto” (1965). Simão vive no meio do deserto em cima de um pilar rezando para alcançar a graça de Deus. Sacrificando-se, resiste às tentações do mundo. Ao longo do filme vão surgir diversas personagens que o confrontam, acreditando que ele é um santo. O Demónio também o, visita, tentando seduzi-lo para os prazeres do mundo. A última vez que surge o diabo revela-se e transporta Simão, para uma discoteca dos anos 60. Aí uma banda toca “Radioactive Flesh” e loucamente as pessoas dançam. Simão observa as almas condenadas.