A Loja de Gersaint

Watteau propôs ao seu amigo Gersaint uma pintura da sua boutique de tableaux, situada sobre a ponte de Notre-Dame, uma representação que é uma reflexão sobre uma época que está prestes a terminar.

Ao observarmos atentamente a pintura, notamos que do lado esquerdo, há um rapaz que olha o célebre retrato de Luís XIV, de Le Brun, a ser embalado. Ao centro um casal aristocrata observa uma pintura campestre, representativa dos encantos da vida e da interminável festa galante, agora condenada. As paredes estão cobertas de pinturas de uma sociedade que cada vez mais se encontra isolada. No lado direito um cão está indiferente à cena.

Segundo Aragon, o tema utilizado, uma loja de quadros e a própria composição, exprimem a ruína de um tempo, produzindo uma mensagem que evoca o seu fim. Esta obra é “um manifesto e um testamento”.

““Lembrem-se”, escreve Aragon, “de que toda essa comédia é italiana, a Cítara, A loja, a Assinatura do Contrato, tudo isto é rompimento com o assunto académico, tal como cristalizou no sol de Versailles, com a peruca do Grande Rei, essa peruca negra que os encaixotadores transportam sob os nossos olhos e que o moço olha bem zombeteiramente antes de o acarretar””. [1]


[1] MÁRIO DIONÍSIO – A Paleta e o Mundo,