Montagem

O copy / paste é uma técnica de que tiram proveito milhões de utilizadores de computadores. Trata-se de ensaios de páginas coladas com critério, juntando fragmentos de jornais, fotografias, textos, livros, imagens, no percurso definido nos cruzamentos ou cortes, (cut-up) dos materiais. William Burroughs, designa esta técnica por: “Good Enough To Steal”, GETS. Para Burroughs a função do artista, é criar novos modos de consciência.

As sementes embrionárias da montagem germinaram nos trabalhos das primeiras vanguardas históricas. Natureza morta com cadeira de palha, técnica mista (1912), constitui uma peça cubista de Picasso, em que são utilizados diferentes materiais. A tela é oval e revela uma reprodução do entrelaçado da cadeira de palhinha verdadeira, uma corda de cânhamo a servir de moldura, letras comerciais, para além da pintura estilhaçada. Os artistas de todas as nações têm-se servido de materiais e símbolos comerciais, com a introdução nos quadros, primeiro, de letras pintadas, depois, de letras impressas, em seguida, pedaços de jornal e papel de parede e, finalmente, materiais alheios, tais como areia, pedaços de vidro, tecidos.

A pintura de Matisse, The Red Studio (1911), representa o estúdio do próprio artista que, nele, organiza, manipula e controla as suas peças, usando a cor e a luz. Em certo sentido, podemos também apresentar o estúdio do artista como exemplo da técnica de montagem. As fotografias que Brancusi fez do seu estúdio, tiradas entre 1920-29 e, mais tarde, entre 1945-46, revelam os diferentes cenários / contextos em que o escultor colocava as suas peças, explorando diferentes iluminações e a modificação progressiva do seu estúdio, como se se tratasse de um work in progress.

A obsessão pelas proporções, cores e espaço envolvente sempre constituiu uma preocupação de Mondrian. As sucessivas alterações dos seus estúdios de Paris (1926) e Nova Iorque (1944) evidenciam a consciência que o artista tinha de um espaço em permanente transformação.

A proliferação da fotomontagem, nas duas primeiras décadas do século xx, através das revistas e dos jornais, teve em Rodchenko um grande impulsionador. As combinações fotográficas criaram uma alternativa à pintura, como por exemplo, as foto-colagens que Rodchenko realizou para o livro de poemas de Mayakovsky (1923). Rodchenko combinava imagens de Mayakovsky, e do seu amor Lily, com as de aviões, animais selvagens encarcerados no Jardim Zoológico, assim como trompetistas de jazz. Cada montagem relacionava o tema com eventos actuais. As abruptas sobreposições e mudanças de escala evocam o imaginário poético de Mayakovsky. As montagens realizadas por Rodchenko, por si só, ganham autonomia própria. A fotografia é vista por Rodchenko como uma extensão das artes gráficas, como um arquivo de imagens, uma acumulação de fotos mais ou menos coerente, que convidam à alteração, replicação e recombinação. Rodchenko, uma das principais figuras do Construtivismo Russo, dá-nos uma nova visão radical da fotografia. Assim, nas suas perspectivas dramáticas, constrói paralelamente o imaginário utópico da sociedade russa, que estava a tomar forma em 1920. Este artista multifacetado celebra, nas suas fotografias, as estruturas e materiais da sociedade revolucionária, integrando a figura humana no tecido industrial. Elabora, para o catálogo da Exposição dos Sovietes do Pavilhão Internacional da Imprensa, em Colónia (1928).

A colagem, a acumulação, a repetição, a nomeação, a citação e a apropriação tornam-se práticas correntes. O desenvolvimento da Fotografia, da Televisão, do Vídeo e o surgimento da world wide web e do multimédia tornam estas práticas acessíveis a qualquer pessoa. Esta arte electrónica é talvez a mais efémera de todas, é a arte do tempo.

No século XX, assistiu-se a uma mutação na relação entre a obra de arte e o espaço em que é mostrada. O estúdio privado dos artistas tornou-se estúdio para o público, fora das convenções do museu. Este factor contribuí para um esbatimento da fronteira entre artista e comissário ou mesmo gestor da caverna pessoal.