O Jogo

Draw a line é composto por uma área de terra definida logo à partida, que geralmente é um rectângulo. Esse espaço é então dividido a meio. Cada jogador fica no seu território. O divertimento deste jogo consiste em dominar todo o território do adversário. “O jogo começa, atirando um canivete para o campo do teu adversário. O local em que o canivete aterra é o canto a partir do qual o teu adversário desenha um rectângulo, podendo fazê-lo com uma mínima perda de terra – se necessário, os jogadores podem criar como que ilhas. Este novo rectângulo agora pertence-te e tu podes apagar a linha entre a tua terra e a terra que acabaste de ganhar. Depois, o canivete passa para o adversário. Este jogo resulta numa contínua alteração de fronteiras, numa negociação de espaço com o outro. O jogo acaba quando um dos jogadores possui todo o terreno. Devido às alterações depois de cada arremesso, este jogo pode facilmente durar dois dias. Claro que o jogo pode acabar a qualquer momento mas, nesse caso, deve medir-se o território para determinar o vencedor.”[1]

Draw a line é um projecto inserido no programa Territory Contemporary Art from the Netherlans, organizado pela Tokyo Opera City Art Gallery, que partiu deste pressuposto, desenvolvendo-se em duas partes: a primeira consistia em colocar o jogo no interior da Tokyo Opera City Art Gallery e a segunda, em introduzir no jogo o público em geral.

Na Galeria foi delimitada uma zona onde se colocou terra, mas a utilização do canivete teve que ser negociada, devido à sua perigosidade para as crianças. A solução foi construir um canivete próprio para o efeito, com a ponta arredondada.

Após a segunda grande guerra mundial, a Guerra-Fria levou a uma divisão do mundo operada, não por um canivete, mas por uma cortina de ferro. Posteriormente os acontecimentos políticos, sociais e económicos levaram à queda do muro de Berlim, ao colapso da União Soviética, à abertura da China à economia de mercado. Mas quando pensamos que já não existem “cortinas de ferro”, uma ainda persiste nos confins da Ásia, entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, chamado paralelo 38. Desde há quase meio século que um país se encontra dividido hermeticamente por uma zona tampão militarizada. Recentemente, as famílias sobreviventes ao tempo e à guerra, separadas por este paralelo, puderam olhar-se nos olhos e abraçar-se pela primeira vez em 50 anos. A este primeiro sinal de abertura que teve lugar o ano passado, sucede agora mais um: a zona tampão foi aberta em Dorasan, pela primeira vez desde 1953, na costa leste. Os soldados sul-coreanos, simbolicamente, ultrapassaram as barreiras naquela área e, em vez de se ouvirem tiros de morte, a cerimónia foi acompanhada por fogo-de-artifício em ambos os lados. A Coreia do Norte com a sua economia devastada, sobrevivendo de algum modo através do apoio da Cruz Vermelha Internacional quer agora abrir uma zona franca ao comércio segundo o modelo chinês e avançar rapidamente com urgentes reformas económicas. No jogo de territórios só o tempo dirá quem ganhou.

[1] GAVIN WADE – Curating in the 21 st Century: The game begins by throwing the knife into the field of your fellow player. The spot in the field where the knife lands is the corner from which your fellow player draws a rectangle and is allowed to do this with minimal loss of land – if necessary players can create as island. This new rectangle now belongs to you and you may erase the line between your land and the land just gained. Then the knife is passed to your opponent.This game results in a continuous shifting of borders, a negotiation of space with the other. The game ends when one player possesses all the ground. Due to changing turns after every throw, this is an endeavor, which can easily last two days. Of course one can end the game at any moment in time but then a process of measuring territory must take place to appoint a winner.