O Templo Branco

Entre 3500 e 3000 A.C., uma grande civilização surgiu na Mesopotâmia, os Sumérios. Estes foram fundadores de cidades-estados, em que cada cidade tinha um Deus local e a propriedade era divina. Viviam num sistema económico de “socialismo teocrático”, uma sociedade na qual o centro administrativo era o templo. O templo situava-se no centro da cidade, no terraço mais alto. Destes zigurates, o mais famoso é a Torre de Babel que foi destruída, mas subsiste outro, muito mais antigo, construído em 3000 A.C., situado em Uruk, chamado Templo Branco. Na sala principal, chamada de cella, situava-se a estátua do Deus. A imagem do Deus a quem foi dedicado o Templo Branco perdeu-se.

A galeria ideal, o white cube, isola o trabalho artístico de tudo o que pode distrair o olhar do público. O espaço apresenta-se como um sistema fechado. A galeria apresenta-se de algum modo como templo branco, espaço sagrado, laboratório de experiências estéticas. Durante os anos sessenta, a galeria é objecto de várias intervenções: transforma-se num bar e numa sala de hospital, com Edward Kienholz, numa estação de gasolina e numa sala de estar com George Segal, num quarto com Lucas Samaras, ou numa rua com Claes Oldenburg. Yves Klein em Abril de 1958, na Galeria Iris Clert, apresenta uma exposição intitulada The Void, que consiste na apresentação da galeria totalmente vazia e pintada de branco, onde Klein oferece cocktails azuis, a mesma cor com que pinta a fachada da galeria, com o seu International Blue Klein. Na mesma galeria, em Outubro de 1960, Arman exibe Le Plein, uma acumulação de lixo e desperdício. A galeria ficou totalmente cheia de detritos da sociedade de consumo. O público apenas podia observar este entulho da rua. Em Estocolmo, na Galeria Addi Kopcke, em 1961, Daniel Spoerri combina com o galerista vender vegetais comprados na mercearia ao lado. Todos os legumes tinham estampada a frase “CAUTION: WORKS OF ART”, e a assinatura do artista. Daniel Burren, em Milão, fecha a Galeria Apollinaire, selando-a com as suas típicas tiras. O grupo Rosario, levando ao extremo esta prática de questionar a arte e os lugares da arte, apresenta uma galeria também vazia, em que a porta só abria para dentro do espaço, fechando hermeticamente. Na inauguração, o público, após algum tempo, toma consciência de que é prisioneiro, assumindo a sua condição de objecto artístico, posteriormente, rebelando-se e partindo o vidro da montra da galeria para sair.

No European Kunsthalle em Colónia (1981), durante a inauguração da sua própria exposição, Gerhard Ricther provocatoriamente, escreveu a spray na parede exterior da galeria de arte: “Power, Corruption & Lies”.