Administração do Aviário

Em “Regras para o parque humano” Peter Sloterdijk (2000), diz-nos que inicialmente os humanizados não eram mais que uma seita dos alfabetizados. O humanismo constitui um esforço para educar o ser humano retirando-o da barbárie. A sua tese é “as boas leituras conduzem à domesticação”. O humanismo burguês, substancialmente, não foi mais que o pleno poder de introduzir os clássicos e elevar o valor universal das leituras nacionais. O fascismo foi a síntese do humanismo e do bestialismo. A Europa foi o palco dos humanismos militantes: bolchevismo, fascismo, americanismo, são três variações do domínio humano. Após a guerra, a crise europeia de 1945 trouxe curas humanistas, como o cristianismo, o marxismo e o existencialismo, três modos de evitar a questão sobre a essência do ser humano. Com o surgimento mediático da cultura de massas em 1918, radiofusão, 1945, televisão, 1990, internet, a coexistência humana foi retomada a partir de novas premissas que são pós-humanistas.

O ser humano está no mundo e a sua essência não pode ser expressa sobre uma perspectiva zoológica. A descrição do ser humano é o pastor do ser, da essência do ser humano. Ao definir os seres humanos como pastores e vizinhos do ser, dirige o homem para uma ascese reflectiva que vai mais longe que todas as metas da educação humanista. Os homens, eles próprios submeteram-se à domesticação e puseram em prática sobre si mesmos uma selecção direccionada para produzir sociabilidade, à maneira dos animais domésticos. Os homens criam homens para serem inofensivos. A transformação do homem em animal doméstico foi o trabalho premeditado de uma associação pastoral de criadores. Assim pode-se ser mais ambicioso, passar para a tese de que os homens são animais dos quais alguns dirigem a criação dos seus semelhantes enquanto outros são criados.

Em “O político” Platão (427-347 A.C.) propõe uma carta magna de uma politologia pastoral europeia. Deste “O Político” correm pelo mundo, discursos que falam da comunidade humana como um parque zoológico, que é ao mesmo tempo, um parque temático. A partir de então, a manutenção de seres humanos em parques ou cidades surge como tarefa zoo política. O que pode parecer um pensamento sobre política é, na verdade uma reflexão sobre a regulamentação e a auto-manutenção para administrar parques humanos. O parque platónico trata só de verificar se existe uma diferença apenas de um grau ou uma diferença de espécie. Na primeira hipótese a distância entre os homens e os seus guardiões, seria acidental e pragmática, e então podia adjudicar ao rebanho a faculdade de eleger periodicamente os seus pastores. Se existir porem uma diferença de espécie e estes fossem distintos um dos outros, seria aconselhável que a administração fosse baseada na sabedoria. O que age por sabedoria está mais próximo dos deuses. Em "O Político" trata-se não apenas a condução domesticadora de rebanhos já por si dóceis, mas de neo-criação sistemática de exemplares humanos mais próximos dos protótipos ideais. A parte mais árdua da arte de pastorear homens é o controlo dos criadores sobre a reprodução. O programa de uma sociedade humanista que se encarna num único humanista pleno, o senhor da arte régia do pastoreio. A tarefa desse humanista é o planeamento de uma elite que deve ser especificamente criada em benefício do todo.