Artistas Contemporâneos

Os artistas já não citam somente o passado, numa tentativa vã de evocação. Citam também o presente, apropriam-se de trabalhos de diferentes culturas. Reproduzem uma cultura global. Se Giorgio De Chirico copiou o seu próprio quadro e Andy Warhol reproduziu artistas de Hollywood, David Salle explora na sua pintura as teorias de Malraux, realizando trabalhos que não estão submetidos a qualquer hierarquia. Simon Linke plagia os anúncios da Art Forum, Mike Bidlo copia Picasso, Sherrie Levine duplica fotografias de fotógrafos famosos. Os próprios museus duplicam as obras magistrais dos grandes mestres, que são reproduzidas em diversos tamanhos e formatos, dando enormes lucros. Qualquer coisa é susceptível de ser reproduzida. O advento da fotografia no século XIX e do digital no século XX abriu infinitas possibilidades às técnicas da reprodução infinita. As próprias galerias, que antigamente vendiam cópias pintadas à mão, agora também vendem reproduções tecnicamente perfeitas. O original tornou-se um fetiche emblemático, o método da reprodução, rápido, simples e barato, apoderou-se do mundo. Este já é cópia de cópia de cópia.

A arte dos nossos dias radica no mecanismo da apropriação das imagens e dos objectos do quotidiano, que se constituem em matéria-prima para o trabalho artístico. A obra adquire a qualidade de receptáculo de milhentas referências. Esta arte de manipulação das obras de arte, através de técnicas de reprodução, propõe um outro modo de ver. A citação é recolhida para fazer um outro sentido, para ser inserida num outro espaço. Toda uma vertente da arte contemporânea persegue este caminho. Inúmeras citações e apropriações de mensagens acumulam-se e servem de base a novas associações de ideias. O papel do artista alterou-se: compete-lhe, já não criar novas obras, mas elaborar novas formas de confrontação do sensível, recorrendo a infinitas possibilidades de combinação.