Europa

“ (…) No future no future for you”.[1]

Em “The coming Insurrection”, por The invisible committee (2007) dizem-nos que vivemos num continuum global de parques de entretenimento, onde assistimos à personalização da massa e à individualização de todas as condições da vida. Vive-se aqui e agora numa estrutura organizativa, ostentada pelo turismo e centros de consumo, de divertimento e atracções estéticas, tudo está misturado. O marketing percorre todo o território, onde tudo está etiquetado com o seu preço, o vazio. A nossa história é a da colonização, migração, guerra, exílio, a destruição de todas as raízes. Somos estrangeiros no nosso planeta, não passamos de um produto para ser vendido, esta é a nova forma de socialização. As pessoas já são uma fantasia criada pelo mercado. Os europeus expropriaram a própria língua e história, a carne pela pornografia em massa, as cidades pela polícia e vigilância, os amigos pelo salário do trabalho. Comboios de alta-velocidade, satélites, vídeo-vigilância, mobilizam as pessoas todas, o que implica o isolamento e o exílio. Não passamos de carneiros pacificados, conteúdo para ser consumido. O capitalismo fez lucro da destruição de todas as “coisas” que viviam de ligações sociais, e agora está a reconstruir na sua própria base. A sociedade agora é uma incubadora. Uma nova economia para uma nova humanidade, não quer só separar a esfera de existência, quer fabricá-la, quer ser a substância das relações humanas, uma nova definição de trabalho, o capital como capital humano. Este é o paradigma civilizacional, economia total construída de baixo para cima onde, tudo é automático. A civilização ocidental aburguesou-se totalmente, desde o trabalhador ao barão. Sacrificou-se uma civilização particular para se impor como uma cultura universal.

Hoje, a nossa sociedade é uma rede cibernética, são milhentas auto-estradas que se cruzam continuamente, ininterruptamente, cruzando informação. Em “Cosmopolis”, Don Delillo (2003) diz-nos: “A ideia era viver fora dos limites estabelecidos, num chip, num disco, enquanto informação, a rodopiar, numa rotação cintilante, uma consciência salva do vazio… As pessoas serão absorvidas por fluxos de informação (…) os seres humanos e os computadores fundem-se. (…) Seria o avanço supremo do ciber-capital, ampliar a experiência humana em direcção ao infinito”.

Noam Chomsky e Edward S. Herman apontam em “Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media” (1988) para a existência de uma forma de estética totalitária, sustentada basicamente pela propaganda reinante no âmbito das democracias ocidentais. Se a grande meta da propaganda totalitária, era transmitir ao povo a ideia da omnipresença do grande líder. A meta da propaganda democrática é de criar um consenso entre a elite da sociedade sobre os assuntos de interesse público, estruturando esse debate numa aparência de consentimento democrático, mas atendendo aos interesses dessa elite. O consenso é feito à custas da sociedade como um todo que, naturalmente, se compõem de mais pessoas que aquelas que compõem na sua elite. O consenso totalitário está presente em todos os lugares. Sabendo tudo o que ocorre no país, consegue tomar todas as providências necessárias. Este modelo é um sistema de propaganda descentralizado e poderoso que nos influência permanentemente.


[1] “God Save the Queen”, Sex Pistols (1977)