Cérebro Consciente

Segundo o neurologista António Damásio em “O Livro da Consciência – A construção do cérebro consciente” (2010) as imagens são "a principal moeda da nossa mente", estas não são só imagens visuais, mas também padrões, "mapas" neuronais, auditivos, viscerais, tácteis, bem como os sentimentos que também são imagens. O cérebro está em contínuo processo de construção de imagens, até mapeia o seu próprio funcionamento. Estas imagens que os cérebros criam iniciam-se na nossa infância e vão-se construir ao longo da nossa vida através da interacção com o mundo em que estamos inseridos. Todas as imagens que construímos são no fundo, o nosso filme pessoal.

Através da biologia descobrimos as respostas, os neurónios que suportam a mente e a consciência são células vivas, com as suas subdivisões e ligações nervosas. O que se passa na nossa mente passa-se na nossa cabeça e também no nosso corpo, diz o autor "o corpo é o alicerce da mente consciente". A mente nasceu nos organismos vivos muito antes de a espécie humana aparecer na Terra. Primeiro dedicaram-se à manutenção e salvaguarda da sua integridade física e depois evoluíram. "A evolução brindou-nos com diferentes tipos de cérebro". Temos o cérebro que produz comportamento, mas que parece não ter mente nem consciência, o cérebro que produz comportamento, e é provável que dê origem a uma mente, mas o grau de consciência é problemático, e finalmente o cérebro humano que produz toda uma vasta gama de comportamentos, mente e consciência.

A construção da consciência inicia-se pela formação de um "proto eu", seguido de um "eu nuclear" terminando com um "eu autobiográfico". Estes três níveis foram sendo acrescentados ao longo da evolução humana. O “proto eu” é uma semente primitiva do eu, produz "sentimentos primordiais", são espontâneos e contínuos, garantem a experiência directa do nosso corpo vivo, são manifestações instantâneas de consciência. Esta é assegurada por sistemas "arcaicos" do cérebro, como o tronco cerebral que liga a espinal medula ao cérebro. Escreve o autor: " Os sentimentos primordiais não só são as primeiras imagens geradas pelo cérebro, como também são o alicerce que o “proto eu” prepara para a construção dos níveis mais complexos do eu." Os outros dois níveis que asseguram a consciência são: o “eu nuclear” que se desenvolve" numa sequência de imagens que descrevem um objecto a interagir com o “proto eu” e a modificá-lo, e o “eu autobiográfico” que surge quando todas essas sequências de imagens de diversas origens, "cuja totalidade define uma biografia", geram por sua vez, impulsos no “eu nuclear" e ligam o eu "ao passado bem como ao futuro antecipado". O “proto eu”, com os sentimentos primordiais, e o “eu nuclear” constituem uma espécie de "eu material". O “eu autobiográfico”, abarca os aspectos da pessoa social, é o "eu social" e também um "eu espiritual". Para realizar o estado de consciência humano, falta o narrador que sabe, e que sabe que sabe. O “eu nuclear” e o “eu autobiográfico” vão "dotar-nos a mente com outra variedade de subjectividade". "A consciência humana normal corresponde a um processo mental onde operam todos estes níveis do eu". Cada um destes três níveis contribui para a "tríade directora" da consciência, formada pelo estado de vigília, a mente e o eu. E geralmente, daquilo que, no seu conjunto, descrevo como a quarta perspectiva.