Videodrome

“O perigo é sempre agradar ao público mais imediato, que nos rodeia, nos acolhe, nos dedica e nos confere sucesso…e o resto. Pelo contrário, talvez seja preciso esperar cinquenta ou cem anos para chegarmos ao nosso verdadeiro público, mas é só esse que me interessa”

Marcel Duchamp

“Penso que a arte não deveria ser reservada a uma elite, penso que deveria ser dirigida à massa dos americanos que, seja como for, a aceita habitualmente”

Andy Warhol

Durante a transição do milénio, entre 1990 e 2010, vem a ser uma vasta literatura produzida, questionando a arte contemporânea, vejamos alguns exemplos: D´un ressentiment en mal d´esthétique (1994) de Georges Didi-Huberman, Artistes sans art? (1994) de Jean-Philippe Domecq, After the End of Art (1995) Arthur C. Danto, Le Complot de l'art (1996) de Jean Baudrillard, La Responsabilité de l'artiste (1997) de Jean Clair, La crise de l'art contemporain : Utopie, démocratie et comédie (1997) de Yves Michaud, The End of the Art World (1998) Robert C. Morgan, L´Art à l`état gazeuz (2003) de Yves Michaud, Les miragens de l'art contemporain (2005), de Christine Sougrins, Querelle de l'art contemporain (2005) de Marc van Jimenez, Pour l'art (2006) de Kostas Mavrakis, L'art caché (2007) de Aude de Kerros, Ou est passé l'art? (2007) de Christian Delacampagne, A Cultura-Mundo (2008) de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, Paris-New York et retour (2009) de Marc Fumaroli, La grande falsification; L'art contemporain (2009) de Jean-Louis Harouel. A polémica que se alastrou na arte contemporânea, indica um mal-estar que afecta irremediavelmente o papel da arte na nossa sociedade. Estamos perante o fim da utopia da arte. Sucumbiu definitivamente a concepção romântica do artista maldito, marginalizado devido à sua própria condição e em ruptura com o sistema socioeconómico que se opõe ostensivamente ao dinheiro, valor estranho à arte. A nova ordem da arte é a visibilidade e a fama. A arte envolveu-se não só no ponto de vista financeiro do mercado de arte, mas também na gestão dos valores estéticos. Tal como qualquer bem material, a arte está constantemente a reciclar para alcançar as necessidades do mercado. A arte é uma espiral estética de frenesim comercial e é na nossa cumplicidade permanente que se mantém o mercado.

O filme "Videodrome" (1983) de David Cronenberg conta-nos a história de Max Renn, o presidente da CIVIC-TV, canal especializado em pornografia softcore. Descontente com a programação, procura a novidade. Através de uma intercepção de um sinal pirata, descobre um programa de televisão sem enredo, a ser transmitido da Malásia. Este reality show apresentado numa bizarra câmara de tortura, contêm violência gratuita como assassinatos brutais. Acreditando, que este é o futuro da televisão, procura as origens do Videodrome. Max acaba por se aperceber que o sinal de Videodrome faz com que o espectador comece a alucinar e a desenvolver um tumor maligno no cérebro.

A arte contemporânea pode ser vista como um tumor maligno que alastra em todas as direcções. Já não há qualquer juízo crítico possível, apenas uma partilha, amigável, do tumor maligno. Aqui reside, o paradigma da arte, um conjunto de vícios transmitidos em todas as inaugurações, exposições, colecções e especulações, e que não pode ser desfeito, uma vez que escondeu o pensamento por trás da estética do capital. Estamos perante uma ideologia pornográfica, cujo seu desenvolvimento e expansão endémica, tornou-se o evento fundamental da arte contemporânea. Perante a visão da orgia e da libertação de todos os desejos, o que nos resta é a morte. “What pornography is really about, ultimately, isn't sex but death.”