Natureza Artificial

A natureza é metáfora do que é puro e não alterado, daquilo que é selvagem. Esta natureza nunca existiu, é uma “ideia de natureza” enraizada na nossa sociedade.

O termo “paisagem” foi cunhado em diferentes países no século XVI, para designar um género de pintura em que a natureza era tomada como um dos principais motivos. O género da paisagem na arte foi determinante, no contexto histórico do Renascimento, bem como na concepção do Homem como centro do mundo e medida de todas as coisas. No século XV, a paisagem era frequentemente integrada na pintura como janela, no século XVI é determinante para o seu género o tratamento da paisagem como cenário. No final do século XVIII, com o romantismo, a paisagem obteve os seus devidos méritos. As paisagens foram associadas à experiência do belo e do sublime. Esta ideia começou a desintegrar-se com o início do século XIX. Quanto mais nos afastarmos da natureza, mais liberdades alcançamos. O século XX revelou que as possibilidades de fruição da natureza são limitadas. A crise ecológica é hoje exemplo disso mesmo. A natureza, hoje ameaçada, é hoje símbolo do avanço da humanidade.

A Paisagem perdeu a sua referência comum a uma natureza que conhecemos. Os paisagistas começaram a simular mais do que a construir, a recopiar mais do que a inventar, a plagiar mais do que a competir. Estamos perante uma analogia entre paisagem e “nova” natureza. A simulação de espaços, uma paisagem em imagem em que as etapas da sua construção são um protocolo. A paisagem como a imagem digitalizada, já não é contra a natureza. É uma pura construção, uma realidade inteira. Já não se trata de representar, mas de testar programas de cenários, trabalhando sobre as variantes e condicionantes pré-estabelecidas. Imaginem a “Hipótese Gaia” (1972), formulada por James E. Lovelock. Um planeta orgânico e auto-regulador, de reciprocidade e de conectividade, mas simulado.