Ciberespaço

A realidade virtual parece fazer pelo teatro, televisão e cinema, o que xanadu faria pelos livros. “A Cibernética é a ciência que estuda as comunicações e os sistemas de controlo, não só nos organismos vivos, mas também nas máquinas”. Com esta definição Norbert Wiener, o pai da cibernética propõe que o eixo vivo / inanimado seja substituído pelo eixo informação / entropia. Assim, todos os objectos do universo existem sob forma informacional e, deste ponto de vista, não há uma fronteira entre o humano e a máquina. O humano é visto como um ser transparente e racional passível de ser descodificado. A noção de input / output torna-se fundamental para existir o movimento de interacção – mecanismos de feed-back – retroacção. Nos anos 60, MarshallMcLuhan refere que todos os média são extensões de alguma faculdade humana – psíquica ou física, onde os circuitos eléctricos derrubaram o regime de “tempo” e “espaço”, reconstruindo o diálogo à escala global.

O termo ciberespaço foi utilizado pela primeira vez na obra de ficção-científica Neuromancer, em 1984, por William Gibson, em que o herói Case aguarda a transição do seu corpo para o ciberespaço, sendo a sua experiência descrita como uma alucinação humana; um mundo virtual, habitado por nómadas telemáticos que percorrem dezenas de milhar de “páginas”, muitas das quais, para além de conterem texto, combinam também sons e imagens.

Com a Globalização, deparámo-nos com a proliferação de redes globais, saturando os ecrãs do globo com imagens, sons, ritmos, cor, que actuam localmente, criando não-espaços. A Realidade Virtual é uma experiência multissensorial, mediada por computador, projectada para enganar os nossos sentidos e convencer-nos que habitamos outro mundo. O desejo de deixar o corpo para trás é tão grande que a possibilidade de transferência ou downloading da consciência humana para um computador é já antecipada no mundo da informática.

As últimas fotografias, transmitidas para a terra do Mars Global Surveyor, mostravam em detalhe a superfície de Marte, poeirenta, sem vida e constantemente abalada por tempestades. Cada vez que enviamos sondas a Marte, deparamos com um planeta mistério. Questionamo-nos acerca da possível existência de vida, que lá poderá ter havido outrora, acerca da notícia que a Nasa avançou no passado, sobre a descoberta de vida num meteoro marciano (notícia desmentida mais tarde). Perguntamo-nos se aquele planeta não será a imagem reflectida da Terra no futuro. Marte como espelho da Terra. A ilusão protege-nos do ser sendo, por excelência, a arte de desaparecer. Protege-nos da morte. Jean Baudrillard refere-se mesmo a um crime perfeito.