Juros Invertidos

Hoje em dia os juros são definidos como o custo do dinheiro. Quem detém o poder de emitir dinheiro, cobra os juros que são taxados de forma exponencial pela cadeia produtiva, os juros estão sempre incluídos nos preços cobrados ao consumidor. Os juros são um método eficiente de acumulação de capital, daqueles que detém o poder financeiro. A consequência é uma economia que está sempre a produzir mais, para criar mais consumo, mais exploração da natureza, mais exploração do ambiente e consequentemente dos seres humanos.

Durante a crise de 1930 do século XX, na Alemanha, na área de Hengersberg-Schwanenkirchen-Schöllnach realizou-se uma experiência económica única. Um engenheiro de minas Max Hebecker comprou num leilão uma mina de carvão. Sem dinheiro e decidido a recuperar a produção da mina decidiu seguir os ensinamentos de um economista controverso, Silvio Gesell (1862-1930) que foi um economista teórico e fundador da Freiwirtschaft, Economia Livre (1916). Basicamente esta economia funciona em três tempos: primeiro todo o dinheiro é emitido por tempo limitado e por um valor constante, as poupanças a longo prazo requerem investimento em títulos ou acções. Segundo toda a terra está em poder das instituições públicas e só pode ser alugada e não comprada, e por último negócio justo. A mina abriu com um crédito de 50.000 Wära, pagando os valores devidos aos empregados com vales chamados Wära. Estes podiam ser trocados por uma determinada quantidade de carvão. Uma vez que precisavam de carvão e devido à crise, haver escassez de marcos, a maioria dos estabelecimentos comerciais "torceu o nariz", para depois aceitar o Wära como pagamento. Se a mina fosse fechada, o desemprego instalava-se e não haveria nem Wära, nem marcos. O Wära era um meio de troca, um valor igual ao dos marcos. Era controlado através da redução de valor, a perda de um por cento em valor a cada mês. Essa redução, no entanto, poderia ser equilibrada através da compra de um selo. Esta medida era para garantir que o "dinheiro" não fosse acumulado e retirado à economia. Em 1931 a Wära já havia sido espalhada pela Alemanha, contava com a participação de mais duas mil empresas. O Banco Central Alemão reparou que este novo meio de troca era uma grave ameaça à moeda nacional, no final de 1931 foi declarado que o Wära era dinheiro de emergência e tornou-se proibido.

Na mesma época entre 1932 e 1933, agora na Áustria, Michael Unterguggenberger (1884-1936) foi eleito prefeito de Wörgl, uma cidade sem dinheiro e com uma taxa de desemprego altíssima. Familiarizado também com a obra de Silvio Gesell, decidiu colocá-la à prova. A Câmara Municipal emitiu moeda local, com juros invertidos. Com apenas 40 000 xelins austríacos decidiu pôr o dinheiro em depósito num banco de poupança local como garantia de emissão própria no valor de 40 mil “Wörgl-schilling”. O papel-moeda desvalorizava a cada mês, tal como no papel-moeda Wära, tinha-se de pagar um imposto sobre o dinheiro de 1%. O desemprego baixou, pavimentaram-se as ruas, reconstruiu-se o sistema de água, novas casas foram edificadas e uma ponte erguida com uma placa dizendo: "Esta ponte foi construída com o nosso dinheiro livre ". Na altura falava-se deste eficaz sistema como o” milagre de Wörgl” que foi copiado, na cidade vizinha de Kirchbichl no início de 1933. E no verão desse mesmo ano, 200 municípios queriam copiar a experiência. O Banco Central entrou em pânico, decidiu fazer valer os seus direitos de monopólio, encerrando a experiência. Depois tornou-se um crime emitir "moeda de emergência".