Texto

É a partir do texto que, pelo advento da computação, se concretiza o hipertexto. Podemos encontrar exemplos de hipertexto em alguns livros tradicionais, cujo teor se revela mediante uma leitura não linear.

O livro de notas de Leonardo Da Vinci, abarca os mais diversos tipos de informação. As notas acumuladas constituem manuscritos de um livro que Leonardo tencionava escrever, sobre as propriedades físicas e os efeitos geográficos da água. As páginas do lado direito referem-se aos efeitos físicos da água a ferver; as do lado esquerdo, aos efeitos das quedas de água.

Até ao século XV, os livros tinham dimensões gigantescas e apresentavam-se presos com correntes nas bibliotecas. Eram livros pesados. Neles ficavam inseridos os comentários relevantes dos diversos leitores ao longo do tempo. Ilustrações, notas de rodapé e remissões para outros textos acumulavam-se infinitamente. O editor veneziano Aldo Manucio, ajudado pelo tipógrafo Francesco Griffo, inventou os caracteres itálicos, destrinçando desta forma os comentários dos textos inseridos. A inovação dos suportes da informação e a criação de novos apoios permitiram melhorias substanciais na recolha e conservação do conhecimento. O avanço da ciência e da técnica tornou-se a base sobre a qual o saber humano desenvolveu as mudanças radicais do mundo contemporâneo

Na literatura, destaca-se Mallarmé, que aspirou a uma escrita, dissociada do paradigma da sua época, que oferecesse ao escritor e ao leitor mais liberdade na leitura. Mallarmé idealizou um livro organizado de forma aberta, como se se tratasse de um jogo, de uma obra inacabada, trabalhando nos Un Coup de dés boa parte da sua vida sem nunca a ter terminado.

A forma de composição do hipertexto possibilita essa liberdade, idealizada por Mallarmé, uma vez que apresenta um campo vasto de hipóteses de leitura e escrita. O facto de podermos iniciar e acabar, em diferentes pontos, cada leitura, coloca-nos perante um labirinto. O link, elo musical entre as palavras é que concretiza o sentido das coisas. A não linearidade do hipertexto representa uma vantagem sobre o sistema de documentos impressos. O hipertexto constituí um paradigma potencial e unificador da diversidade actual, em que cada tarefa ou material requer uma ferramenta independente. O modelo do hipertexto oferece a capacidade de aumentar a qualidade da informação heterogénea e de facilitar o seu uso, por meio de ferramentas consistentes de apresentação e manipulação. Veja-se, por exemplo, o labirinto da escrita de Borges, cujo conteúdo jamais se encontra encerrado, definido. A construção dinâmica do texto impresso e a arte da escrita não-linear, já preconizada por Leonardo Da Vinci, Mallarmé ou Borges, encontra no projecto Xanadu a primeira forma de uma nova modalidade de criação artística e literária.