Matrix

É um filme de ficção científica, cuja acção decorre num futuro pós – apocalíptico onde os seres humanos vivem permanentemente conectados às máquinas que os controlam, numa simulação neural – interactiva que abarca todos os aspectos da vida e exalta o triunfo da cultura cibernética. Nos nossos dias, o sistema mais próximo desse futuro também próximo é o denominado CAVE, uma projecção virtual em 360º, de imagens hiper-realistas efectuadas por computadores contendo motores de realidade virtual.

Neo, a personagem principal do filme, é resgatado desta caverna digital onde os seres humanos sucumbiram ao poder da simulação. Morpheus, uma das personagens que o salva do mundo artificial questiona Neo: “Alguma vez tiveste um sonho e te convenceste que era real? E se não conseguisses acordar desse sonho? Como é que diferenciavas o mundo do sonho do mundo real?”. O trajecto que Neo percorre, da virtualidade para a realidade, é chocante: o seu corpo tem os músculos atrofiados, os olhos dóem-lhe. Morpheus refere-se à nova realidade de Neo com um “Bem-vindo ao deserto da realidade”. As novas tecnologias permitem o acesso a esse grande teatro – mundo da arte total. A realidade virtual, o mecanismo de criar imagens de alta – resolução, expõe os humanos a uma fábula, a uma casa – espelho. Neo questiona-se: “Isto não é verdadeiro?” Morpheus responde: “O que é que é verdadeiro? Como é que defines verdadeiro?” A simulação onde Neo vive é a Matrix que Neo, no decorrer do filme, acaba por domesticar. Utiliza a Matrix como seu instrumento, libertando-se da simulação daquela.

Nos nossos dias, a artista britânica Jane Prophet concretizou a TechnoSphere, um mundo virtual. O modelo é baseado no mundo real. É um mapa virtual de 16 quilómetros quadrados onde qualquer utilizador da Web pode dar forma a criaturas artificiais, que agem automaticamente e ver como sobrevivem no ecossistema digital[13]. As criaturas podem ser herbívoras ou carnívoras e, para acasalarem, têm de se apresentar geneticamente idênticas e sexualmente maduras. TechnoSphere acaba por ter vida própria e aí tudo pode acontecer. Os utilizadores têm um papel fundamental na evolução deste mundo, acabando por se relacionar entre si.

Escreve Nicole Stenger: “Aquilo a que chamamos realidade foi apenas, de qualquer forma, um consenso temporário”[1]

[1] SCOTT BUKATMAN – Terminal Identity, The Virtual subject in postmodern science fiction, “ What we call reality, was only a temporary consensus anyway”