A Estrada Real

- “A consciência da morte.”

- “A verdadeira morte é a decadência.”

“Perken olhava agora no espelho o seu próprio rosto.”

- “É tão mais grave, envelhecer! – Aceitarmos o nosso destino, a nossa função, a casota de cão erguida na nossa vida única ... Não se sabe o que é a morte quando se é novo ...”

“E de repente, Claude descobriu o que o ligava àquele homem que o aceitara sem que ele percebesse bem porquê: “a obsessão da morte.”

“La Voie Royale” (1930) de André Malraux (1901-1976) narra a história de dois aventureiros: Claude Vannec, um bretão e Perken, um dinamarquês de origem alemã. Claude é um jovem que se entranha no coração da floresta traiçoeira da Indochina, na vã tentativa de encontrar templos perdidos e glórias de outrora. Perken é algo parecido a um alto funcionário que procura um presumível desertor: Grabot. Tendo um passado estranho sente-se prisioneiro da sua própria vida. Nesta busca que ambos fazem ao longo da antiga estrada real Khmer, estabelece-se uma amizade entre os dois. O Romance foca a amizade profunda entre dois homens que se encontram, se ajudam e se interrogam. Esta é uma novela da revelação do destino do homem, obtida através da sua luta contra o próprio homem como também contra a natureza. Percorrermos “A Estrada Real” na consciência do perigo e no próprio sentido da aventura, sentimos a esperança, a inquietação e o cansaço dos personagens. Não se distingue o bem do mal. Só sentimos o homem e a sua condição humana.

Ao percorrer a estrada defrontam-se com o poder colonial francês, são abandonados pelos nativos na floresta, fogem dos pântanos, de insectos gigantes, da vegetação hostil, de armadilhas, são emboscados, fogem do cativeiro, fazem um pacto com os índios, são cercados por uma tribo inteira, matam, fogem mais uma vez e durante a viagem a morte surge. Nesta terra vazia assistimos a uma aventura iniciática. É uma reflexão sobre o homem e o seu destino. “A Estrada Real” é a derradeira aventura onde o homem deve encontrar-se e dar sentido à sua vida, marcando a sua passagem, lutando, sabendo que vai ser derrotado. Todo o romance nos leva inexoravelmente para a morte. A única solução é a revolta na aventura ou no erótico, tentando escapar do inevitável. A grandeza do homem está na sua rebelião, embora a luta já esteja perdida. A morte ocorre quando a esperança morre. Não existe explicação para o suicídio. "Deus não pensou, não houve recompensa futura, nada poderia justificar o fim da existência humana."

Na verdade, é a última lição: não há morte, há um indivíduo que está a enfrentar a sua própria morte em situação de pobreza e solidão, a história repete-se perpétuamente. A morte é uma experiência individual e infinitamente solitária. A morte enterra-se em nós e faz-nos meditar sobre as culpas, sobre os direitos, sobre a alma humana e as suas fragilidades. Somos seres derrotados perante o abismo de uma morte lúcida. É como uma espera para nascer, uma dor profunda perante a visão do que ainda não se vislumbra, como o parto natural de um ser...

- “Falhamos quase todos a nossa morte...”

- “Eu passo a minha vida a vê-la. E aquilo que você quer dizer porque também você tem medo - é verdade: é possível que eu seja mais fraco do que a minha. Tanto pior! Também há qualquer coisa de ... satisfatório na destruição da vida ...”