Vanguarda

“As artes de vanguarda participaram do mesmo totalitarismo proveniente da crença de que tinha chegado a hora de refazer o mundo” refere Boris Groys em “Art Power” (2008). As vanguardas históricas ao introduzirem-se no mercado, tornaram-se mercadorias como quaisquer outras, deste modo a produção de bens culturais foi mercantilizada, apenas o lucro interessa em detrimento da qualidade artística. Entrámos na época da indústria cultural, é a capitulação da cultura perante o mercado. “A indústria cultural torna tudo igual” diz Theodor W. Adorno (1903-1969). A livre escolha está condicionada, a arte contemporânea já não surpreende o espectador, parece ser uma subespécie do design e da publicidade. É o resultado tardio do alargamento da esfera da arte e da estética perante a vida, algo que os artistas sempre propuseram. O poder financeiro tende a apagar a linha de separação, não já entre o bom e o mau gosto, mas entre obra e os produtos que saturam o mercado cultural. A novidade é o falso artista, que exibe doravante a sua inutilidade e vaidade. O surgimento do artista falso na sociedade do século XX, significa a confusão crescente entre a arte e a pseudo-arte. Com o aparecimento do pseudo-artista assiste-se ao desaparecimento do crítico, assistimos a uma marcha triunfal da farsa. Refere Marcel Duchamp (1882-1968): “Numa época como a nossa, por exemplo, desde há cem anos, na minha opinião, não produziu nada no sentido elevado da palavra, sobretudo por causa da intromissão do comercial na questão.”

Por detrás da mercadoria e do seu fetichismo esconde-se uma verdadeira “pulsão de morte”, a ideia de aniquilamento do mundo. É necessário gostar não dos homens, mas do que os devora. Diz-nos Marcel Duchamp (1882-1968): “Quando descobri os ready-made, esperava desencorajar esse carnaval estético. Os neo-dada descobriram um valor estético. Atirei-lhes os porta-garrafas e o urinol à cara como provocação, e afinal eles admiram a sua beleza”