Uma Exposição

Terra Vazia é o título de uma exposição que foi realizada na Fábrica Nacional de Óptica, num edifício degradado como tantos outros. Espaços que, invariavelmente se encontram a aguardarem pareceres de longos processos em tribunais, câmaras municipais ou o fim de disputas entre os seus proprietários. Agora, como uma proposta de conclusão deste trabalho, expõe-se o próprio vazio da Fábrica. Na inauguração, ao caminharmos na Rua do Embaixador, já perto da Fábrica, ouvimos o som da máquina de guerra: helicópteros, bombas, rockets, metralhadoras. Ao entramos na antecâmara, observamos a exposição, definida através do enquadramento da porta. Os espelhos em abîme e as marcas no chão, citam o trabalho final, desenvolvido no work in progress, Condição Humana, teoria e prática de bolso. Agora, essas marcas de vivências e de trabalhos anteriormente expostos desaparecem sob um manto de areia. Resta o deserto e a falta de visão dada através de algumas hastes de óculos partidos. Para além de a Fábrica se encontrar vazia com o seu ar decrépito, o som das eternas batalhas, os espelhos disformes e as marcas humanas que se desvanecem, encontramos uma única imagem. Um grito que não se ouve, é já impossível ouvi-lo. Um auto-retrato disforme, representativo deste mundo absurdo de horrores. Já pouco resta da “Condição Humana”, ela própria se consome no deserto do tempo.

Realidades escondidas entre milhares de terras vazias ao longo do planeta, onde ocorrem as guerras, a violação dos indefesos, das mulheres, das crianças, onde o sadismo camuflado do poder opera os seus trunfos civilizacionais. Aí, onde os refugiados fogem e se ajudam uns aos outros, nos limites das suas vidas, onde ocorrem actos heróicos impensáveis, onde o dia-a-dia é significativo de miséria humana. É nos escombros dessas temíveis realidades que se descobre o significado da “condição humana”.[1]

[1] ANA RUIVO – in Expresso “Cartaz”, 2002 :A instalação de R. Vilhena marca o culminar de um amplo projecto por si comissariado onde diversos autores foram expondo/agindo sob o mote “Condição Humana”. Num ambíguo espaço que ilusoriamente se projecta para lá dos seus limites físicos, permanece a alusão às anteriores intervenções numa cartografia de memórias que progressivamente se foi ocultando na desertificação do local. Assinalando o final de um ciclo de iniciativas, o lento regresso onde o mesmo tem decorrido ao seu estado de abandono e a perturbadora visão de uma paisagem humana sob o vazio da guerra, “Terra Vazia” focaliza-se na percepção da imagem fotográfica de um corpo distorcido que, em resultado da manipulação digital, potencia o conceito de sobrevivência e de destruição do homem.