A Fachada da Arte

A arte é a fachada do neoliberalismo, o persuasivo mercado parece providenciar a única solução possível para uma cultura artística. Esta arte é sinónima de negócio e em tempos de crise é percebida como um luxo. A cultura global tornou-se indiscriminada e necessita do marchand que substitui o julgamento estético e o valor artístico. Os dealers, os comissários, os galeristas, os coleccionadores participam no mesmo negócio, o da arte. Somente alguns artistas chegam ao “topo”, enquanto a vasta maioria é ignorada e desclassificada pelo sistema artístico instituído. Através da exclusão dos chamados “não profissionais”, “não comerciais”, que não estão nas ditas galerias de primeira linha, que não são legitimados, a vasta maioria dos artistas visuais luta por sobreviver. Esse monstro chamado indústria cultural envia a globalidade dos artistas para um guetto, para gerar valor artístico, pois os artistas que subsistem no guetto são os participantes do mundo da arte. São estes que alimentam e desenvolvem o mundo artístico. Estamos num mundo artístico que é global, mais diversificado e nada maleável no seu alcance estético. Agora nada existe fora do mercado, o valor e o preço surgem-nos como uma dialéctica sem fim. A arte é uma bela e fria máscara que esconde a lógica instrumental do capitalismo.

Don DeLillo em “Cosmópolis”(2003) afirma: “(…) chegámos ao estado final (consumado) do bourgeois gentilhomme. Quer dizer: do burguês que comprava tudo para ser – aparentar ser – um nobre. Em pouco mais de três séculos, o burguês – aquele que desejava ser une personne de qualité – tornou-se num burgesso (…). O burgesso já não aspira a ser realmente um homem de gosto: basta-lhe passar por homem de cultura desde que isso lhe traga um aumento de capital. O dinheiro perdeu o seu carácter narrativo, tal como já sucedera em tempos à pintura. E a propriedade segue o mesmo caminho.”