Palácio da Memória

Ars Memoriae é um exercício do pensamento, de passagens, de sinais e de factos.

“Isto é a ars memoria: a técnica mnemónica antiga para construir arquitectónicas bases de dados na cabeça. Alguns escritores romanos fizeram descrições técnicas destes “palácios da memória”, considerando que constituíam um aspecto prático e vital da arte da retórica (o termo retórico “tópico” deriva de topoi, o “lugar” onde se pode guardar um argumento ou ideia). Os palácios da memória podiam localizar-se em espaços reais ou imaginários; certos indivíduos achavam que o melhor era combinar os dois modos, a fim de que a simulação de construções reais contivesse pormenores imaginários. Embora seja difícil de acreditar que este sistema barroco funcionasse, a prodigiosa memória do mundo antigo sugere o contrário. Conta-se que Séneca podia escutar uma lista de nomes e repeti-la por ordem, enquanto Simplicius, amigo de Agostinho, adorava recitar a Eneida, de Vergílio, ao contrário.”[1]

Na Patagónia, Bruce Chatwin narra a sua viagem a um país estranho, à procura de um brontossauro que “...tinha vivido na Patagónia, uma região da América do Sul nos confins do mundo. Caíra num glaciar há milhares de anos e deslizara por uma montanha abaixo numa prisão de gelo azul.”[3] Na escola, aprende que o brontaussauro era, afinal, um braditério ou preguiça-gigante. O livro começa por descrever o narrador em criança fascinado por um pedaço de pele desse animal que mais tarde, a sua mãe deita fora. A sua viagem pela América do Sul tem como único objectivo encontrar um pedaço de pele da preguiça-gigante. A viagem decorre errática, cruzada de histórias e encontros com outras personagens até que, finalmente, acha o que havia perdido: “E, então ao esgravatar num canto, vi mechas do pêlo áspero e avermelhado que tão bem conhecia.”[4]

Esta é a parábola do mundo actual, em que podemos aceder às bases de dados computadorizadas, onde a internet mais parece um cérebro humano, auto-regulado, que se limita a crescer, fundado em associações semelhantes às que o cérebro humano é capaz de fazer. Para encontrar o que desejamos temos que realizar uma viagem através de diversos links. Por vezes deparamo-nos com páginas que pouca ou nenhuma informação nos dão. Prosseguimos para o próximo link até pacientemente atingirmos o nosso objectivo.


[1] ERICK DAVIS – Tecnognose, Mito, Magia e Misticismo na era da informação,[3] BRUCE CHATWIN – Na Patagónia,[4] Idem