Sedentário vs. Nómada

Nos seus primórdios o homem selvagem era nómada, deslocava-se por vastas áreas em busca de alimento para a sua sobrevivência. Nessa errância descobria o mundo e adquiria conhecimento.

Actualmente o homem civilizado é sedentário, está enraizado na cultura civilizacional, abraçado pelas diferentes dimensões da experiência familiar, religiosa, política, militar e económica. O homem tornou-se “deficiente” perante o poder da civilização que administra, vigia e controla a sociedade a todos os seus níveis. O homem civilizado já não tem possibilidade de locomoção.

Os novos viajantes são um híbrido entre o outrora homem selvagem e o actual homem civilizado. Os novos nómadas paradoxalmente são sedentários e viajam através das representações electrónicas mediante o ecrã. Navegam por infinitos labirintos das redes de informação, num caleidoscópio de fragmentos do mundo, através da memória electrónica dos bits e bytes. Nestas milhentas viagens virtuais disponíveis, outro ser surge, “o homem biónico”.

“O que significa ser um humano? Mais: o que é "parecer" humano? Estas questões tornam-se cada vez mais abertas ao debate quando se contemplam as novas e extraordinárias tecnologias para auxiliar pessoas deficientes a ter uma vida melhor. Com o advento dos dispositivos wireless, a internalização de aparelhos electrónicos no corpo humano avançou tremendamente, e hoje pode dizer se que a espécie humana está na mesa de desenho de alguns projectistas bastante incomuns. E os deficientes físicos, que há anos já vêm-se amparando em tecnologias específicas para interagir com o mundo ao seu redor, tem vantagem neste novo cenário.”[1]

O homem biónico é aquele que através das novas tecnologias tem a possibilidade de escapar à “paralisia” administrada pela civilização e pelo poder do estado. Assim o homem confunde-se com a realização técnica e viaja não através dos seus próprios meios de locomoção mas, sim, através da tecnologia. Paralisado, percorre uma vastidão de terras, como se fosse um nómada. Ao pensar e sentir no mesmo lugar, percorre novas possibilidades, articulando novos sentidos e estilhaços da experiência humana, ultrapassando as fronteiras que o definem e o fixam a uma identidade. Pensar é viajar. Comunicar, hoje em dia, é estar "on-line", é esta a regra da comunicabilidade, da interacção com um mundo criado à medida do imaginário dos dispositivos tecnológicos. Vivemos pela primeira vez uma época que procura associar os prazeres do nómada às vantagens do sedentário.

O homem biónico, de algum modo, é exemplo desta nova situação, na qual nos perdemos na vertigem das imagens e dos espaços cibernéticos.

[1] http://www.lerparaver.com/homem_bionico.html