Salto de Fé

Søren Kierkegaard (1813-1855) defende a singularidade do homem contra a universalidade do espírito. A existência contra a razão e a liberdade como possibilidade contra a liberdade como necessidade. Refere-se a ele próprio como “uma cobaia de experiências da existência”. Este homem singular, existente, é absorvido pela razão. “A verdade, afirma ele, só é verdade quando é verdade para mim.”

Existem dois estádios fundamentais da vida: a vida estética e a vida moral. Entre um estádio e outro existe um abismo e um salto. No estádio estético existe um mundo luminoso é um estado de “embriaguez” intelectual. Este caminho é insuficiente, pois acarreta o desespero. A alternativa é dar um salto para a vida ética. Quem desespera, escolhe de novo e escolhe-se a si próprio, deste modo nasce a vida ética. Esta implica estabilidade e continuidade. O estádio ético é o domínio da reafirmação de si, é a escolha que o homem faz de si próprio. Este indivíduo não poderá renunciar a sua história, ao reconhecer-se, arrepende-se. O arrependimento envolve o indivíduo, a família, o género humano, até se encontrar com Deus. É o reconhecimento da culpa, esta é a escolha absoluta com a consciência da certeza da morte. Essa nova postura culmina num salto para outro estádio da existência, o estádio religioso. Søren Kierkegaard refere-se ao salto, como um salto para a fé. O salto de fé é a expressão utilizada para explicar a ruptura do estádio ético para o estádio religioso da existência. Entre elas, existe uma ruptura, um abismo. Este "salto no escuro", não apresenta nenhuma garantia racional para o indivíduo, por isso é sua salvação. A fé é uma relação privada entre o homem e Deus. O salto de fé coloca o indivíduo em relação directa com o absoluto. Estamos no domínio da solidão, daí o carácter incerto e perigoso da via religiosa. Como pode o homem estar certo de ser a excepção, como pode saber que é ele o eleito. Com o salto da fé o indivíduo terá assumido o seu destino perante Deus.

A angústia é a condição em que o homem é colocado em relação ao mundo, o desespero é a condição em que o homem é colocado em relação ao seu eu. Ao dar o Salto de Fé, a fé substitui o desespero pela esperança em Deus. Transporta o homem para lá da razão e de qualquer possibilidade de compreensão: ela é o absurdo, o paradoxo, o escândalo. Tal e qual como no final do filme “Indiana Jones e a Grande Cruzada” (1989), o aventureiro dá um salto de fé.

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