Amenemhat III

No reinado de Amenemhat III, o Império Médio atingiu o seu auge. Durante este período, o Egipto beneficiou de uma paz efectiva, facto que permitiu intensa criatividade artística, de que existem relatos em inúmeras inscrições dentro e fora do Egipto.

Tendo construído duas pirâmides (uma em Dahchur, provavelmente o seu cenotáfio, outra em Hauara, na qual foi sepultado), Amenemhat III é conhecido pelo seu templo funerário, perto de El-Faium. A câmara funerária foi levantada em primeiro lugar, num único bloco de granito de cerca de 110 toneladas, para aí ser colocado o sarcófago, após a conclusão dos trabalhos. Para evitar o saque da pirâmide, foram construídos vários corredores sem saída.

Segundo as narrativas gregas, a estrutura, em forma de labirinto, era semelhante à de Cnossos, em Creta. Este templo continha mais de 3000 salas distribuídas por dois andares. O gigantismo da arquitectura era tal que qualquer humano que entrava tinha dificuldade em sair do labirinto.

No conto O Imortal, de Borges, um manuscrito, do tempo em que Alexandria implorou misericórdia a Júlio César, dá conta da secreta Cidade dos Imortais. O narrador, Marco Flamínio Rufo, tribuno militar a viver em Tebas, depara-se com um cavaleiro que lhe dá as direcções do “rio secreto que purifica os homens da morte”, mas este cavaleiro procura outro rio. Assim sendo, Marco Flamínio Rufo com duzentos soldados romanos, e alguns mercenários inicia uma viagem, esperando alcançar a vida eterna. Atravessando inúmeros desertos, Marco Flamínio Rufo perde-se numa tempestade de areia, ficando só, à beira da loucura. Ao acordar, descobre que está numa montanha, onde habitam trogloditas cinzentos, que deambulam nus, não falam e não dormem. Mas vê também a Cidade dos Imortais. Cheio de sede, bebe uma água escura e delira durante vários dias até atingir a Cidade dos Imortais. A cidade, era um labirinto. “Este palácio é obra dos deuses, pensei inicialmente. Explorei os inabitados recintos e corrigi: os deuses que o edificaram morreram. Notei as particularidades e disse: os deuses que o edificaram estavam loucos.”[1] Passaram vários dias e Marco Flamínio Rufo manteve-se com os trogloditas, tentando comunicar com um deles, que apelidou de “Argos”, o cão moribundo da Odisseia, de Homero. Um dia tudo se iluminou, quando o troglodita “Argos” disse: “Argos, cão de Ulisses”, “Esse cão atirado para o esterco”. Marco Flamínio Rufo perguntou-lhe logo que sabia ele da Odisseia. Para obter a mais extraordinária resposta: “Já se terão passado mil e cem anos, desde que a escrevi.” Os trogloditas eram, afinal, imortais, perdidos no esquecimento das cavernas da Cidade Labiríntica que haviam erguido. A água escura que bebera consubstanciava o que procurava. Para os Imortais, “cada acto, (e cada pensamento) é eco de outros que no passado o antecederam, sem princípio visível ou o fiel presságio de outros que no futuro o repetirão até à vertigem”[2]. Marco Flamínio Rufo, após viver centenas de anos, encontra o outro rio que o cavaleiro procurava, tornando-se novamente mortal. “Eu fui Homero: em breve serei ninguém, como Ulisses; em breve, serei todos: estarei morto.”[3]

[1] JORGE LUÍS BORGES – “O Imortal”, in O Aleph[2] Idem[3] Ibidem