A Obra de Arte

Na "A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica" (1936) Walter Benjamin, primeiro assume que é possível reproduzir tudo de maneira perfeita, na qual não é possível distinguir o original da cópia, para depois utilizar o termo “aura” para marcar os limites da reprodução. A “aura” é algo que não pode ser reproduzido. O Original tem uma “aura” e a cópia não. O original tem uma localização específica e é por isso que tem um local de objecto único na história. A cópia é virtual, sem lugar, sem história. Deste modo a obra está integrada numa topologia incerta de circulação. Se é esta a distinção entre original e cópia, meramente topológica, esta distinção é determinada pela topologia definida pelo movimento do espectador. Se nos movemos para ela, a obra é original. Se forçamos a obra a vir ter connosco, então é cópia. O conceito de "aura" não é substituído pelo nascimento de reprodução mecânica, mas sim emerge exactamente na mesma época, sob a forma do seu excesso do “sublime”. A reprodução e a "aura" não se opõem, mas estão bloqueadas juntas em colisão fatal. Neste planeta de imagens digitalizadas, estamos unicamente trabalhando com originais, com originais ausentes, invisíveis, originais digitais. As obras de arte perderam a sua aura e devem ser vistas como tal.

Marcel Duchamp (1882-1968), tudo pode ser transformado numa obra de arte pelo simples gesto de um artista, ao colocar qualquer objecto num contexto artístico. Quem é esse artista, e como ele ou ela pode ser distinguido de um não-artista. A resposta é novamente a mesma, estando dentro do contexto. Na contemporaneidade, o curador deixa de ser um árbitro distinto do gosto do público e, em vez disso, torna-se também numa espécie de artista: aquele cuja própria arte se desenvolve por obras de arte. O que isso implica, na prática, é uma narrativa em vez do estado da arte.

Boris Groys em “Art Power” (2008) diz-nos: "O curador contemporâneo é o herdeiro aparente do artista moderno," (…) "Ele é um artista porque ele faz tudo o que os artistas fazem. Ele é um artista que perdeu a aura do artista [e tornou-se] um agente de profanação da arte, a sua secularização, o seu abuso”. O curador como uma forma de arte por seu próprio direito. Para sobreviver à uniformidade, a única opção é reconstruir o seu mundo interior constantemente. Não apresentar diferenças visuais existentes, criar um esbatimento, talvez esta seja a diferença. Isto pode mudar e produzir uma prática pós-conceptual, no qual o artista, a obra e o destinatário de uma obra não podem mais ser claramente distinguidos. Esta é uma nova prática de arte política, mas a prática da arte política tem de deixar de ser arte. Seria uma abordagem geral do "ateísmo arte." "Para praticar o ateísmo de arte", escreve ele, "seria necessário entender as obras de arte não como encarnações, mas como simples documentos, ilustrações ou significações." Já nada é original tudo é apropriação, escrever textos, criticar, é uma forma da arte válida, uma forma posteriormente ilustrada com imagens. O melhor projecto de arte é aquele que não consegue ver a luz do dia, é o projecto que nunca foi terminado por diversas razões. É o sonho, o plano, o objecto ideal de arte. A formulação de projectos para ser o único horizonte possível. A inovação, hoje em dia, passa pelo contexto. A arte, o que alguns persistem em chamar arte arrisca-se a desaparecer ou tornar-se praticamente clandestina.