Arte Interactiva

Tanto a teoria de György Lukács (1885-1971) como a teoria de Theodor W. Adorno (1903-1969) tomam ambos os movimentos de vanguarda como pontos de referência, ambos atribuem valor a este ponto: Adorno um valor positivo – a vanguarda constitui o estádio mais avançado das artes, Lukács um valor negativo – a vanguarda como decadência. Bragança de Miranda retoma nos nossos tempos a teoria de uma vanguarda em que as artes interactivas estão na sequência do vanguardismo, mas a força do “negativo” se esgotou. Este é o valor negativo a que Heidegger se referia como “furor destrutivo”, Benjamin como “choque” e Greenberg como movimento ininterrupto. Os movimentos de vanguarda representam o ponto lógico na evolução da arte na sociedade e não dependem de quaisquer avaliações, positiva ou negativa do seu fenómeno.

Quando a evolução da arte superou os movimentos históricos de vanguarda, teorias como a de Adorno, passaram à história do mesmo modo que a de Lukács. A disponibilidade total dos materiais e das formas, características da arte pós-vanguardista, deverá ser investigada, tanto nas suas possibilidades como nas suas dificuldades o que implica, uma análise de obras concretas. A arte de vanguarda é histórica e ultrapassada e é redundante voltarmos a ela, mas os teóricos da interactividade tendem a acentuar os aspectos de ligação geral do mundo segundo uma “forma estética”, ligação essa que cria uma única obra, o “mundo como obra de arte”. O destino da arte seria então, o da realização de um objecto-mundo. Dá-nos a sensação de retomar o velho projecto de Wagner da “obra de arte total”. A vida entra na arte como pretendeu o vanguardismo, fusão do real e do virtual. Esta possibilidade deveria ser vista não como vanguarda e não como criação de um único objecto-mundo, mas sim de múltiplos mundos alternativos. Construir a arte é construir possibilidades de realidades, que são uma ilusão de estética total; é pós-vanguarda, pois é ultrapassada num salto para a frente, mas depende de cada criador-produtor. Já não se encontra na esfera das vanguardas, pois se encontra fora da história da arte e da crítica de arte. A possibilidade é serem infinitas obras de arte totais, ausentes da realidade.

A arte interactiva é uma mudança radical na estética ocidental e poderá representar um novo começo. As pessoas comunicam dentro de um mundo virtual e podem desenvolver as capacidades necessárias para programar esse mundo de modo, a que possam transformar-se a si próprios ou para converter o mundo noutra coisa. Estamos numa situação nova, criativa e a nível filosófico inteiramente novo.