Comunidades Virtuais

Howard Rheingold define as comunidades virtuais como agregações sociais que emergem na internet quando as pessoas discutem publicamente os seus interesses, com suficientes emoções para formarem relações no ciberespaço. Existem três estilos diferentes de Comunidades virtuais: MUD, Chat Rooms e Espaços Tri-dimensionais. O MUD (Multi-User Dimension) e os seus predecessores, são as primeiras formas de Comunidades virtuais que foram desenvolvidas em redes de computadores, contando unicamente com o poder da expressão escrita. Os Chat Rooms providenciam, no ciberespaço, lugares onde os participantes se reúnem em pequenos grupos para discutirem. Se, no início, os Chat Rooms previam só texto, as últimas tendências da web mostram Chat Rooms gráficos, onde existem imagens de fundo. Os espaços tridimensionais são recentes e têm a vantagem de os participantes poderem passear pelo mundo e comunicar. Cada indivíduo é representado por um avatar. As pessoas inseridas em comunidades virtuais fazem exactamente as mesmas coisas que fazem na vida real, apenas deixando os corpos para trás.

The Public Electronic Network é descrita como New Urban Polis onde os participantes são encorajados a participar na democracia da comunidade de Santa Mónica, Califórnia. Estas comunidades costumam estar ligadas a uma área geográfica. Algumas Comunidades formam países virtuais: República de Malveale, Reino de Landreth, Principado de Zugesbuch são micro-estados que têm uma constituição, um hino, uma bandeira, os seus sistemas eleitorais e órgãos representativos, emitem passaportes, bilhetes de identidade e notas de banco. David Korem foi recentemente detido nas Filipinas, por vender passaportes do estado-nação de Rochedos Perdidos do Pacífico.

Estas comunidades virtuais lembram o conto de Jorge Luís Borges, onde é descrito o mundo Tlön, o mundo que se pode encontrar na Anglo-American Cyclopaedia, volume XLVI, Nova Iorque, de 1917. Nesse mundo os metafísicos de Tlön procuravam o assombro.

“Julgam que a metafísica é um ramo da literatura fantástica. Sabem que um sistema não é outra coisa senão a subordinação de todos os aspectos do universo a um qualquer deles. Até a frase “todos os aspectos” é inaceitável, porque pressupõe outra operação impossível...Uma das escolas de Tlön chega a negar o tempo: raciocina que o presente é indefinido, que o futuro não tem realidade senão como esperança presente, e que o passado não tem realidade senão como recordação presente. Outra escola declara que já decorreu todo o tempo e que a nossa vida é apenas a lembrança ou reflexo crepuscular, e sem dúvida falseado e mutilado, de um processo irrecuperável. Outra, que a história do universo – e nela as nossas vidas e o pormenor mais ténue das nossas vidas – é a escrita que produz um deus subalterno para se entender com um demónio. Outra, que o universo é comparável a essas criptografias em que não valem todos os símbolos e que só é verdade o que sucede de trezentas em trezentas noites. Outra, que enquanto dormimos aqui, estamos acordados noutro lado e que assim cada homem é dois homens.” [1]


[1] JORGE LUÍS BORGES – “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, in Ficções