Axiologia

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Axiologia

A Axiologia é uma parte importante do estudo filosófico. Axiologia pode ser denominada como Teoria dos Valores, pois, o sentido do termo axiologia indica, etimologicamente, o estudo que se ocupa com a consideração dos aspectos valorativos.

Toda filosofia é a busca da compreensão de certas respostas em relação aos problemas fundamentais suscitados pela experiência humana, isto é, qualquer estudo filosófico se apresenta como verificação de certas respostas, ou ainda, se estas resolvem estas questões que são propostas de modo problemático. Neste sentido, é possível dizer que cada experiência é conseqüência de um juízo de valor. O juízo de valor é prévio em relação à ação individual, pois, estabelece um modo de encarar as coisas que não só antecede, mas determina um modo de agir. Os juízos de valor são constitutivos da estrutura cognitiva e resultam diretamente, como parte integrante, naquilo que denominamos como experiência. E isto, desde a mais tenra infância na vivência individual.

Assim sendo, a valoração é, na verdade, um ato subjetivo de valorar. Subjetivo é o que se refere ao sujeito que pensa, questiona, sente, imagina, compara, quer, ou ainda, o sujeito que escolhe uma opção mediante sua própria condição. Valorar é conferir valor, seja a alguém, a uma situação ou mesmo a uma idéia (trata-se de buscar o motivo do valor ou de sua ausência). O ato de valorar é determinante no modo como cada indivíduo observa o mundo, e, por isto mesmo, tal ato está diretamente relacionado com as próprias escolhas de vida que uma pessoa pode ter. O vocábulo valorar não é o mesmo que valorizar, pois, este sugere uma associação da idéia do valor com um sentido materialista.

O materialismo conduz necessariamente às ações interessadas, ou até interesseiras. No entanto, deve-se enfatizar que o ato de valoração é o modo individual de pensar que motiva as pessoas, em geral, a agirem de acordo com a própria liberdade . A tematização da noção de liberdade, a partir da referência com a Axiologia, indica que tal discussão confere humanidade às nossas ações. Por esta razão, a Axiologia pode ser tematizada propriamente como Teoria dos Valores. A abordagem de tais aspectos pode ser desenvolvida em dois sentidos, a saber, no sentido moral e no sentido ético. Portanto, ao mencionarmos as palavras ‘ética’ ou ‘moral’, já estamos tentando compreender, de modo axiológico, ou melhor, de modo valorativo as ações humanas. Examinar alguma consideração valorativa, indica falar em termos de busca do significado. O tratamento de uma teoria do significado não teria o menor sentido se não contivesse uma abordagem axiológica e existencial. Tendo em vista que a Axiologia está voltada para a atividade humana, logo, este assunto pertence à Filosofia Prática. Ao que parece, a questão axiológica pode ser formulada do seguinte modo: Qual a importância de se pensar numa teoria dos valores tendo como referência o convívio em sociedade ? O reino mineral não tem um mundo de valorações. O reino vegetal não tem um mundo de valorações. O reino animal é dividido em racional e irracional, donde se conclui que os animais irracionais possuem um mundo pobre de valorações e apenas os seres humanos, por admitirem um comportamento baseado na razão, possuem um mundo de valores . Assim sendo, a consciência só pode ser um assunto, se houver a tematização axiológica.

Quando uma certa pessoa não consegue adequar sua própria conduta à uma determinação restritiva de sua liberdade individual, temos uma postura moral. Contudo, se um indivíduo observa a lei e as regras (que, supõe-se, pretendem uma validade universal), e procura respeitar este limite, temos uma conduta baseada na ética. Kant enunciou a ‘regra de ouro’ da ética do seguinte modo: “Age de tal modo que a sua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal”. Basicamente, as ações morais são motivadas por interesses individuais, enquanto as ações éticas se orientam por questões que apelam para compreensão de razões em comum. Em relação à ética, não se trata exatamente de um respeito forçado ou condicionado, pois, para ser ético, um indivíduo precisa, antes, compreender o significado da regra, aceitar isto por sua própria vontade e reconhecer a importância da ética para o bom funcionamento da convivência em sociedade.

Do ponto de vista ético, as ações humanas só possuem valor quando representam autenticamente o que uma pessoa aceita como um valor seu. A internalização da regra ética pressupõe a aceitação da mesma por meio da livre vontade do sujeito. A aceitação, por parte do sujeito, do argumento em prol da ética, deveria ser através de um convencimento das razões que sustentam a petição por uma ação ética. Ética é a disciplina do ‘dever ser’. A ética está para as ações práticas, tal como a lógica está para os pensamentos. Ambas são legisladoras da razão. Só pode haver ética, se houver uma genuína adequação entre discurso, pautado em princípios válidos em geral, e a ação individual. Obviamente, regras são determinações e o cumprimento destas, é irrevogável. Mas uma regra deste tipo, não está inscrita em um código e, por vezes, caso não seja cumprida, o que pode acarretar é a falta de união nos negócios humanos. Esta falta de união se caracteriza como impossibilidade de diálogo, e assim, como irracionalidade nas relações. Costuma-se pensar que os códigos jurídicos expressam o que deve ser, e por isso, se caracterizam como códigos éticos. No entanto, para haver ética, não basta uma teoria ou lei, precisa-se, apenas, de uma ação que venha se adequar a um testemunho verdadeiro, ou seja, do discurso ético para a ação ética. Sem ética, não existe qualquer possibilidade de travar contato minimamente amistoso, estável, respeitoso no sentido da construção dos aspectos positivos das relações humanas. Se um indivíduo segue as regras, de tal modo que não haja nenhum histórico que indique alguma transgressão, ainda assim não é possível dizer que sua ação é ética, pois, de fato, pode ser que ele só aceite as regras por conta da consideração ao temor de ser apanhado em flagrante ou ainda da obtenção de algum benefício. Se a ética quer predizer o que é certo de um modo em geral no que se refere ao comportamento humano, o objetivo se refere à sociabilidade das relações, o que indica que sua finalidade é reduzir a possibilidade de atrito e desentendimento nas relações humanas.

Considerações Finais

A minha ideia, no texto, foi marcar a Axiologia como sendo aquela parte da Filosofia que se ocupa com questões práticas. A conduta humana se orienta pelo modo de valoração. Questões éticas são mais teóricas do que práticas, e isto porque a ética se apresenta de um modo mais normativo do que a moral. Ética é disciplina do ‘dever ser’, e é realmente tal qual uma lógica para a conduta humana porque encontra-se baseada em regras. A Ética pretende estabelecer o que é certo ou errado, e isto a partir de uma consideração universal.

Ora, todo universal é tão abstrato que sequer o vivenciamos em nossas experiências.

Vivenciamos situações relativas às nossas vidas (situações concretas ou particulares), o que é incomparável. Mas a questão do universal continua presente, e sua função é estabelecer um critério para os particulares, portanto, assume a função de estabelecer critérios de comparação, e principalmente, de estabelecer parâmetros para o juízos de valor. Não é necessário que haja conflito entre ética e moral, a menos que aquilo que seja requerido de um ponto de vista ético não venha a se adequar à uma postura moral (que é sempre individual). A doutrina de Jesus Cristo, nesta matéria, ensinava o testemunho verdadeiro, ou seja, que o que é dito deve corresponder de modo autêntico ao que se pensa e ao que se sente. Ou ainda que a manifestação comportamental expresse exatamente o que é defendido em tese. Este ensinamento pode ser verificado nas palavras: ‘não julgueis para não serdes julgado’; ‘quem não tiver pecado que atire a primeira pedra (em Madalena)’; E isto porque Jesus enfatizava a questão da importância do testemunho verdadeiro, ou seja, que aquilo que falamos e fazemos represente exatamente aquilo que pensamos. Melhor ensinamento filosófico não há.

ANEXO 1

Podemos classificar os assuntos axiológicos do seguinte modo:

O fundamento filosófico para a idéia da Axiologia.

Por André Vinicius Dias Senra em 23/07/2009

ANEXO 2

A questão da teoria do valores refere-se à possibilidade de comportar as ações livres com aquilo que é esperado do sujeito enquanto ação apropriada a certos fins.

Liberdade => Indivíduo x Regras => V ou F (lógica)/C ou E (Ética)

ANEXO 3

Valor:

1) Material = visar o bem no sentido concreto / bens materiais = riqueza.

2) Sentimental = visar o bem no sentido da significação / vivência significativa = felicidade.

OBS: O senso comum confunde a busca da felicidade com a busca de melhores condições de um ponto de vista material. Dinheiro não traz felicidade, mas facilidade para alcançar certos objetivos, e quem sabe, utilidade se for bem empregado. Em geral, dinheiro é um valor importante em nossa sociedade em função de originar uma sensação de liberdade para quem detém quantia acumulável. No entanto, esta sensação é falsa, pois, a pessoa que julga ser dona do dinheiro é, na verdade, sua escrava. Dinheiro tem a ver com poder e promove um comportamento que separa indivíduos. Poder é poder mostrar, fazer, ostentar, etc, em benefício próprio. Poder não é algo que se divide, e pela mesma razão, dinheiro deve ser acumulado, pois, tanto o dinheiro quanto o poder perdem sua finalidade quando são distribuídos. Felicidade não tem a ver com poder, menos ainda com dinheiro, e é algo bem mais intimista no sentido que inibe o sentimento de oposição que um indivíduo poderia ter, naturalmente, em relação a qualquer outro. Não é sem razão que se diz que a felicidade é um estado de espírito.

*André Vinícius Dias Senra é professor de Filosofia da rede estadual de ensino, da The British School do Rio de Janeiro, e da Pós-Graduação em Filosofia Medieval da Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro e doutorando em Epistemologia pela UFRJ.

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