Carta 08

Não pode o amor; força afirmativa,

gerar movimentos de força negativa.

O QUE é que nos dá unidade e completude e nos faz perceber nossa similitude com o outro no desejo primeiro de cada um, e na realização última de todos nós?

A resposta não é outra senão o amor. É por meio dele que podemos satisfazer nosso desejo particular de felicidade e nossa realização universal de sermos felizes. Por isso, creio! Somos inevitavelmente vulneráveis a ele, entendo-o como uma força anímica que unifica os indivíduos e dá completude ao homem, portanto, princípio universal de toda unicidade humana, o que nos torna iguais.

Sendo verossímil meu entendimento, não pode o amor fazer juízos de valor, nem estético, nem moral, nem religioso, muito menos econômico. O juízo é um atributo da razão e o amor não está para Logos, ele é puro Eros, Deus dos desejos, das pulsões, do sentimento que visa a unificação, a complementaridade com o outro, sem, no entanto sermos parte. Sentimento que nos impulsiona em direção ao outro desejado, impulso de atitude afirmativa. – O movimento próprio do amor é o de aproximação.

De outro modo se nossas atitudes vão no sentido de negar o encontro, o afeto, a afeição, a troca, a paixão, o toque, o prazer, o compartilhamento, a cumplicidade, é porque estamos usando toda esta força anímica em um impulso de atitude negativa. Estamos amando as avessas, estamos amando para dentro, estamos amando somente a nós mesmos, portanto, sem unidade, sem encontro, por isso acometidos pelos juízos de valor que nos diferencia e torna o outro um estranho a nós.

Esta estranheza cria um movimento contrário ao de aproximação, cria o movimento de distanciamento e continuamos encarcerados em nós mesmos.

Presos no desejo primeiro de cada um perdemos a realização última de todos nós.

Janeiro, de 2000

Westerley

Carta Filosófica Nº 08