Educação e trabalho: quais as capacidades básicas para um bom profissional daqui para a frente?

Por Guiomar Namo de Mello *

O desenvolvimento tecnológico subverteu a ordem dos fatores de produção que o mundo herdara da segunda revolução industrial. É possível ilustrar esse processo comparando um chip de computador com um automóvel ou qualquer outro bem durável. O carro nasce de um projeto concebido pela inteligência humana, mas leva bastante matéria prima na sua produção. O chip do computador é leve e cabe na palma da mão. Quase não leva matéria para ser produzido. É inteligência humana concentrada. Na nova ordem é o conhecimento que ocupa o lugar central, não mais a matéria prima.

Neste século o potencial intelectual e cultural de um povo será tão ou mais importante que os recursos naturais existentes em seu território. E quanto mais esses recursos incorporarem a inteligência e o trabalho tanto maior valor agregado terão. O bom profissional será aquele que dominar esse conhecimento que agrega valor. Para isso é importante ter cultura e conhecimentos, daí a importância do currículo escolar com as disciplinas básicas para conhecer o legado científico, cultural e artístico da humanidade. Mas cultura e conhecimento estão longe de ser suficientes.

Para ser produtivo e competitivo no mercado de trabalho, o bom profissional do século 21 deverá ser capaz de acessar a informação e o conhecimento que crescem em velocidade exponencial, onde quer que estejam disponíveis, dar-lhes sentido e aplicá-los no enfrentamento de situações complexas. Isso requer o desenvolvimento de um conjunto de competências que poderiam ser agrupadas em três grandes áreas.

  • Competências para aprender: domínio da própria língua para ler, falar, escrever, ouvir, argumentar; habilidades para comunicar-se e cooperar; pensamento crítico; criatividade e capacidade de inovar.

  • Competências para usar as tecnologias da comunicação e informação: informática, mídias, redes sociais, e outras.

  • Competências na área profissional: flexibilidade e adaptabilidade; iniciativa e autonomia; capacidade de reconhecer e acolher a diversidade; produtividade e responsabilidade; liderança e habilidade para trabalhar em equipe; buscar informações para tomar decisões com autonomia;

Além dessas competências é preciso considerar que o mundo de hoje carrega um grau de imprevisibilidade como nunca ocorreu no passado, quando a realidade podia ser incerta mas as pessoas não tinham perfeita consciência disso. Agora sabemos que não sabemos o que nos espera. Portanto, é possível que a característica mais importante para o profissional bem sucedido deste século seja a capacidade de conviver com a incerteza e mesmo assim conseguir identificar oportunidades e tomar decisões em cenários mutantes.

(*) Publicado no BLOG DE EDUCAÇÂO E DEBATE do Observador Político

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