A Educação na Grécia Antiga

Mariana Cruz

O homem é a medida

A educação é um dos meios pelos quais os valores espirituais e físicos do homem são conservados e passados. Ao comparar a educação da Antiguidade grega com as grandes civilizações do Oriente, é fácil observar um grande salto da primeira em relação às outras. Não é à toa que a Grécia Antiga é apontada como berço da civilização ocidental. A educação do homem grego – a Paideia – visava formar um elevado tipo de homem. Diferente da concepção oriental, em que o homem ideal era considerado alguém sobre-humano, uma espécie de homem-deus que ultrapassava a medida natural, a Grécia apresentou uma nova visão de homem, em que ele era a medida das coisas. A partir daí surgiu a questão da individualidade (embora longe de se confundir com o cultivo da subjetividade característico da Modernidade).

Os grandes sábios da Grécia, ao contrário dos do Oriente, não eram considerados enviados dos deuses, profetas ou homens sagrados, e sim mestres independentes e formadores de seus ideais. Era um ambiente onde a liberdade de pensamento predominava.

Heróis com exemplo

A educação grega era voltada para a formação de uma individualidade perfeita e independente. A palavra Paideia significa “criação de meninos”; antes dela, porém, apareceu outro termo ainda mais essencial à formação grega: a areté, que pode ser traduzido por virtude.

As principais obras do helenismo vêm desde a idade heroica de Homero até o Estado dominado pelos filósofos, idealizado por Platão. Como representantes da Paideia grega estão os poetas, músicos, filósofos, retóricos, isto é, todos aqueles que mexem com as palavras. Mas foram os textos homéricos, Ilíada e Odisseia, as grandes fontes inspiradoras do desenvolvimento da educação grega baseada no modo de vida virtuoso.

Atualmente existem dúvidas sobre a autoria dessas obras, se foram escritas por um só autor, e se são pertencentes à mesma época. Isso se dá porque as características históricas da Ilíada a colocam como um poema bem mais antigo que a Odisseia. Na prática, porém, continuamos agrupando-as sob o nome de Homero. Além de haverem tido grande influência na educação do homem grego, tais poemas são considerados os testemunhos mais remotos daquela cultura, em que estética e ética andavam juntas. Talvez por isso essas obras de arte se prestem ao papel de mestres da juventude.

Se por um lado Platão criticava a falta de verdade existente nos poemas épicos, por outro é inegável que nesses textos estejam manifestos a riqueza humana e o espírito do homem superior. Tanto a Ilíada como a Odisseia nos remetem, através dos mitos, a grandes feitos do passado. As recordações dessas ações exemplares representadas nos mitos já têm em si um conteúdo educativo. Os mitos, no entanto, não devem ser vistos como uma forma de comparação com a vida do homem comum, e sim analisados pela sua própria natureza.

Na Ilíada está presente o ideal heroico do homem corajoso, guerreiro, combativo, enquanto na Odisseia é valorizada a cultura e a moral aristocrática, a moral dos maiores (a origem do termo “aristocrático” é aristoi, que significa os melhores, os chefes, os mais corajosos, os mais honrados). Os heróis homéricos lutam para obter a honra no decorrer da vida e não para serem considerados honrados apenas depois da morte.

O homem vulgar não tem areté,que é um atributo da excelência humana que orienta a práxis, a ação cotidiana do homem para o Bem. O texto épico busca narrar o mundo ideal; portanto, tudo aquilo que é baixo, insignificante e falho é varrido dele. Apesar disso, na épica homérica deparamos com situações semelhantes às vividas pelo homem comum, como, por exemplo, uma pessoa recebendo conselhos de outra. Em um trecho da Ilíada, Fênix, o educador do jovem Aquiles, herói-protótipo dos gregos, recorda-lhe a finalidade para a qual foi educado: “proferir palavras e realizar ações”. Passagens como essa tinham caráter normativo, eram passos a serem seguidos.

Com o tempo, a educação grega foi se modificando e deixou para trás o sentido inicial. A busca pela areté decorrente de uma formação mais ética acabou dando lugar a um tipo de educação mais utilitarista, que preparasse o aluno para a vida privada e pública. Uma espécie de adestramento infantil.

Protágoras

No diálogo Protágoras (séc IV a. C.), de Platão, vemos que a educação era uma espécie de modeladora do corpo e da alma. A educação física, a musical e a literária eram as três bases que sustentavam a formação do homem grego. A ginástica era estimulada não apenas para dar vigor físico ao praticante como também – e principalmente – para incutir-lhe coragem. Todavia, se exercida em excesso, tornaria o homem muito duro. A música e a literatura tinham a missão de educar a alma do homem, mas também deveriam ser ensinadas sem exagero para evitar que o indivíduo se tornasse sensível demais.

Da música para as letras e os números

A partir dos sete anos, a criança ateniense passava a ter uma educação voltada para a música (poesia, canto e dança) e o físico. Ao completar treze anos, terminava a educação elementar. Aqueles com mais recursos poderiam continuar sua educação.

Esse tipo de educação, porém, foi aos poucos dando lugar para as discussões literárias e o estudo da Matemática. A partir dos dezesseis anos, a educação superior passou a ser dada pelos sofistas, que ensinavam aos jovens a arte da oratória.

Por fim, com a chegada do período helenístico (336-146 a. C.), começou a ser exigido dos alunos um conhecimento enciclopédico; os aspectos físicos e estéticos perderam sua força, iniciou-se a separação entre as disciplinas humanistas (Gramática, Retórica e Dialética) e as científicas (Aritmética, Geometria, Música, Astronomia). O estudo da Filosofia se intensificou.

Os centros de estudos dos filósofos

Em 387 a. C., Platão fundou sua escola filosófica, a Academia, cujo objetivo principal era realizar investigações científicas e filosóficas. O filósofo tornou-se então o primeiro dirigente de uma instituição permanente de pesquisas desse tipo. Pouco mais de meio século após a fundação da escola platônica, foi vez de um ex-aluno da Academia, Aristóteles, abrir a sua própria instituição de ensino. Em 335 a. C. foi inaugurado o Liceu, um centro de estudos lógicos, físicos, metafísicos, políticos etc.

A partir deste breve texto sobre a Paideia grega, é possível notar que tal formação busca a completude, a excelência, o alcance máximo das potencialidades do homem grego. Tratava-se de um tipo de educação, literalmente, “de corpo e alma”.

Sites pesquisados:

http://www.seednet.mec.gov.br/colunas.php?codmateria=4092

http://br.geocities.com/maeutikos/filosofia/filosofia_paideia.htm

http://members.tripod.com/pedagogia/gregos.htm

Bibliografia:

JAEGER, Werner. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Grécia Antiga. Revista História Ilustrada da Grécia Antiga. São Paulo: Escala, s/d.

Publicado em 11 de setembro de 2007

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