Etéoclo e Polinice

A Discórdia preside às disputas que dividem os povos e as famílias. A Fábula de Etéoclo e Polinice nos mostra a sua ação. Os dois filhos de Édipo haviam expulsado o pai, que cobriu de maldições e lhes predisse que se matariam um ao outro. Os dois irmãos, temendo que a maldição paterna fosse ratificada pelos deuses, se continuassem a viver juntos, decidiram, de comum acordo, que Polinice seria o primeiro em se exilar voluntariamente da pátria, que deixaria o cetro a Etéoclo, e voltaria depois, para que cada um pudesse reinar, alternadamente, um ano. Mas Etéoclo, uma vez no trono, recusou-se a descer e proibiu ao irmão o regresso à pátria. Polinice, então, tratou de procurar aliados para a defesa dos seus direitos.

Anfiaraus

Adrasto, rei de Argos, acolheu Polinice, e prometeu-lhe repô-lo no trono de Tebas. Buscou, por conseguinte, aliados para empreender a luta, mas um poderoso chefe, Anfiaraus, tratou de dissuadir ambos, por ser adivinho e por lhe haver a ciência mostrado que a guerra seria fatal aos que a começassem, e que todos morreriam, com exceção apenas de Adrasto. Anfiaraus tinha uma mulher chamada Erifila, e por um velho juramento que fizera a Adrasto, comprometera-se, no caso de divergências entre eles, a submeter-se inteiramente à decisão de Erifila. Quando Polinice soube disso, empregou um ardil para forçar Anfiaraus a combater. Tinha em suas mãos o famoso colar que Vênus dera, noutros tempos, à Harmonia, no dia de suas núpcias com Cadmo. Deu-o de presente a Erifila, que, assim, se deixou corromper, e Anfiaraus, apesar da certeza que tinha de mau êxito do negócio, foi obrigado a combater com Adrasto e Polinice.

Um poderoso exército se reuniu em breve para marchar contra Tebas. Comandavam-no sete chefes: Adrasto, Polinice, Capaneu, Partenopeu, Anfiaraus, Hipomedonte e Tideu. Juraram todos que iriam combater sob as suas ordens.

Arquemoro

Durante o caminho, faltou-lhes água, e o exército começou a sofrer devoradora sede. Encontraram, então, uma criatura que tinha um filhinho, e perguntaram-lhe se não havia no país uma fonte. Chamava-se o menino Ofeltes e era filho do rei Neméia. A mulher era Hipsipila, outrora rainha de Lemnos, mas que, tendo sido vendida posteriormente como escrava, estava ao serviço do rei de Neméia, que lhe confiara a tutela do filho. Hipsipila pousou a criança sobre umas folhas de aipo e conduziu os sete chefes a uma fonte das proximidades. Durante a curta ausência, porém, uma serpente envolveu nas espiras a criança abandonada e sufocou-a. Ao regressarem, os chefes apressaram-se em matar a serpente e tomaram aos seus cuidados Hipsipila, para livrá-la da ira do rei de Neméia. Deram à criança o nome de Arquemoro, realizaram-lhe um magnífico funeral e instituíram em sua honra os jogos de Neméia, nos quais os vencedores se cobriam de luto e se coroavam de aipo.

Combate dos Dois Irmãos

Anfiaraus viu naquilo péssimo presságio. Mas era preciso partir, e assim chegaram todos a Tebas. Uma terrível batalha se feriu sob os muros da cidade, que Etéoclo não pretendia entregar. Como o sangue escorresse por toda parte, Etéoclo subiu a uma torre, mandou que se fizesse silêncio, e disse aos exércitos: "Generais da Grécia, chefes dos argivos que a guerra atrai para estes páramos, e vós, povo de Cadmo, não arrisqueis mais a vida nem por Polinice, nem por mim. Quero eu, sozinho, enfrentar o perigo, e desejo lutar contra meu irmão, de homem para homem. Se o matar, governarei sozinho; se for vencido, entregar-lhe-ei a cidade. Vós, portanto, abandonai o combate, voltai para Argos, não venhais mais aqui perder a vida; o povo tebano não deseja outras mortes." (Eurípedes).

Feriu-se, então, entre os dois irmãos um combate singular no qual foram mortos ambos. Os deuses haviam ouvido as derradeiras imprecações de Édipo. Esse combate figura num grandíssimo número de baixos-relevos antigos.

O exército sitiante foi vencido, e todos os chefes pereceram com exceção de Adrasto, que deveu a vida à rapidez do seu cavalo. Assim, realizou-se a profecia de Anfiaraus.

Funerais de Etéoclo e de Polinice

O senado de Tebas, que tomara partido pelos sitiados, decidiu que Etéoclo seria sepultado com honra, mas que seu irmão Polinice seria, em virtude da traição, deixado sem sepultura, para que o devorassem os cães e os abutres. Antígona quis enterrar o irmão, apesar das ordens dadas e, decidida a desobedecer, disse aos chefes do povo: "Pois bem! Eis o que respondo eu aos chefes dos de Cadmos. Se não há quem queira, comigo, enterrá-lo, hei de conseguir sozinha, e assumirei toda a responsabilidade. Não vejo vergonha nenhuma em sepultar meu irmão, nem que para isso devesse, rebelada, ir de encontro aos desejos da cidade. É coisa grave termos caído das mesmas entranhas, termos tido a mesma mãe, uma infeliz, o mesmo pai, outro infeliz. Sim, deliberadamente, hei de continuar irmã deste morto. Ah, não se fartarão da sua carne os lobos de ventre faminto. Hei de sozinha, apesar de mulher, incumbir-me de remover a terra e preparar uma cova. Trarei o pó nas dobras desta tela, e eu própria a recobrirei com ele o cadáver. Ninguém objetará! Terei essa coragem, e, o que é mais, terei ao meu lado todos os recursos de uma alma que quer conseguir." (Ésquilo).

Pausânias, na narração das suas viagens, diz que viu o túmulo dos filhos de Édipo. "Não assisti aos sacrifícios que ali se realizam, mas pessoas dignas de fé me asseguraram que nas ocasiões em que se assam as vítimas imoladas aos dois irmãos irreconciliáveis, a chama e a fumaça se dividem visivelmente por eles."

Creonte, rei de Tebas, sabendo que, não obstante a proibição, Antígona sepultara o irmão, pergunta-lhe se conhecia o decreto. A jovem não nega: "Não pensei, responde, que as leis dos mortais tivessem bastante força para superar as leis não escritas, obra imutável dos deuses. Para mim, o traspasse não tem nada de doloroso; mas se tivesse deixado sem sepultura o filho de minha mãe, teria sido infeliz; quanto à morte que me aguarda, em nada me assusta." Creonte, conformando-se à lei, ordenou a morte de Antígona e as suas ordens foram executadas; ao mesmo tempo, porém, soube da morte de seu filho único Hemon, que amava Antígona, e que se ferira mortalmente. Sua mulher morreu também ao saber da morte do filho, e Creonte ficou sozinho com toda a amargura. Assim terminou a família de Laio.

Artigo retirado de:

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