Corrupção

Prezados

Parece claro para qualquer cidadão minimamente informado de que boa parte das campanhas eleitorais são financiadas por dinheiro sujo e sem lastro, proveniente de falcatruas, desvios e toda sorte de absurdos realizadas por maus políticos e assessores que tornaram-se parasitas da política, passivos ou ativos. A prática é algo recorrente e largamente divulgada pela imprensa. Quem lida perto do universo da política, sabe que corrupção é rotina nos bastidores do poder e por vezes dentro dos partidos políticos.

Contudo, muito pouco é feito para estancar esse descalabro. Com efeito os políticos e os candidatos que almejam uma boquinha, seguem driblando as Leis e a confiança do povo, certos de que nada ocorrerá com eles. E de fato nada acontece com eles. O povo, por sua vez, está envolvido hoje, ontem e sempre com o "pão e com o circo". O pão, os programas assistencialistas cuidam, o circo fica por conta da imprensa "chapa branca" e por conta das religiões oportunistas que aprisionam os fiéis e aproveitam da boa fé dos que são privados de instrução ou estão vulneráveis por questões circunstanciais. (depressão, desemprego, drogas, separações, alienação etc)

Se não bastasse, a justiça parece não enxergar os escândalos, trata a maioria das denúncias como "intrigas" fruto do jogo político, sobretudo nos níveis mais altos, de onde espera-se providencias. E por que as providencias não são tomadas"? Além da falta de instrumental, boa parte dos magistrados que militam nas instancias superiores foram indicados por membros do poder executivo ou do legislativo, (cargos políticos). Julgam os recursos, mas esquecem de se aprofundar nos autos. Usam critérios meramente políticos onde a Lei deveria prevalecer e ser implacável.

A título de informação, isso é uma reclamação recorrente de Juizes de primeira instâncias que pode ser conferida em qualquer tribunal dos 27 Estados da Federação. A reclamação é de que as decisões são frouxas quando deveriam ser duras. De sorte que a corrupção precisa ser tratada como crime hediondo, julgada de forma imparcial e sem interferências, inibindo os que confiam na impunidade. Para agravar, o que parece ser o fundo do poço, ainda existe, nos labirintos da justiça, as manobras de advogados inescrupulosos, lançando mão de "hábeas corpus" e uma infinidade de artimanhas para livrar os "anjinhos" da cadeia, fazendo o crime de corrupção tornar-se algo compensador.

Mais do que punidos severamente com cadeia, esses cafajestes devem devolver com juros o que roubaram, ficando automaticamente inelegíveis para sempre. O episódio do Amapá é apenas uma pontinha do que acontece naquele Estado, para quem conhece, e representa uma prática comum de políticos que acreditam na impunidade, e que não deixa de representar também a realidade do Brasil, "coincidentemente", do Oiapoque ao Chuí.

José Aparecido Ribeiro

Licenciado em Filosofia, Bacharel em Turismo

MBA em Marketing - Consultor

Especialista em Assuntos Urbanos

CRA MG 0094 94

31 9953 7945 - BH - MG

NOTA DO EDITOR:

Estes dois artigos acima foram reproduzidos em 24/02/2013 no Administração no blog, onde o(s) autor(es) inseriu imagens e editou partes do texto para conseguir o efeito desejado.

Corrupção, Moral e Filosofia

Luiz Antonio Flor

No capítulo X de "Cândido, Ou o Otimismo", romance "filosófico" escrito por Voltaire, a bordo do navio que o conduzia ao Paraguai, o personagem título, relembrando o filósofo Pangloss, que imaginava ter visto morrer enforcado num auto-de-fé em Lisboa, dizia aos seus companheiros de viagem: "Vamos para um outro universo. É lá sem dúvida que tudo está bem, pois cumpre confessar que em nosso mundo não faltava o que chorar quanto ao lado físico e moral das coisas".

Plagiando Voltaire, atrevo-me a dizer que em nosso país não falta o que chorar quanto ao lado físico moral das coisas, principalmente da política. Há ainda outras coincidências entre essa obra de Voltaire e o ambiente político e o descompasso social, há séculos, vigorantes no Brasil.

Primeiro: é condição fundamental para que um político exerça um cargo eletivo nas esferas federal, estadual e municipal, seja no executivo ou no legislativo, que ele seja antes um candidato (esqueçamos os senadores biônicos, de triste memória). Apesar dos dicionários da língua português mais populares não apresentarem esta denotação para o substantivo candidato, registrando tão somente o significado corrente em nossa língua ("aspirante a emprego, cargo, vaga em determinada instituição, honraria ou dignidade, aquele que pleiteia um cargo eletivo"), a palavra se origina do vocábulo latino candidatus, que significa aquele que veste roupa branca, o que lhe dá, na origem, significado semelhante ao do adjetivo cândido ("alvo, imaculado, puro, sincero, ingênuo, inocente").

Segundo: empregando a ironia, Voltaire traz à luz os preconceitos, as desigualdades sociais, a ingenuidade do povo, as tiranias do Estado e da Igreja e, principalmente, a corrupção, questões muito atuais no cotidiano do país.

Terceiro: o escritor e filósofo iluminista se divide no otimismo exacerbado de Pangloss ("Tudo está bem quando tudo está mal") e o maniqueísmo de Martinho ("Eis como se tratam os homens uns aos outros") e confronta a amizade com o interesse, a benevolência com a filáucia, a sensibilidade com a brutalidade, a benquerença com a ganância, a ambição com a fé e o amor com o ódio. Um olhar mais apurado sobre a contaminada atmosfera política brasileira e sobre o desabrimento da nossa sociedade mostrará como é atual o pensamento de Voltaire.

A consciência coletiva, definida por Émile Durkheim como o "conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado com vida própria", foi totalmente eivada pelo nefasto absolutismo português, fomentando, assim, um círculo vicioso de causas e efeitos: os políticos sabem que a sociedade é frágil e faminta, então lhe atira as migalhas, como milho aos pombos, em toca de votos; e a sociedade se torna refém desses mesmos políticos.

Observem como se comportam os políticos e a sociedade brasileira. No fundo, há uma relação de promiscuidade entre ambos; a única lei que, no paradoxo brasileiro, é levada ao pé da letra é a lei (não escrita) de Gérson: "Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também".

Artigo escrito por Luiz Antonio Flor

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