Mito de Pandora

Pág. 23 - O domínio dos deuses

Prometeu, deus cujo nome grego significa "aquele que vê o futuro", doou aos homens o fogo e as técnicas para acendê-lo e mantê-lo. Zeus, o soberano dos deuses, se enfureceu com esse ato, porque o segredo do fogo deveria ser mantido entre os deuses. Por isso, ordena a Hefesto, deus do fogo e das habilidades técnicas, que crie uma mulher que tivesse todas as perfeições, e que a apresentasse à assembléia dos deuses. Atena, a deusa da sabedoria e da guerra, vestiu esta mulher com uma roupa branquíssima e adornou-lhe a cabeça com uma guirlanda de flores, montada sobre uma coroa de ouro. Hefesto a conduziu pessoalmente aos deuses, e todos ficaram admirados; cada um lhe deu um dom particular. Atena lhe ensinou as artes que convém ao seu sexo; como a arte de tecer. Afrodite lhe deu o encanto, que despertaria o desejo dos homens. As Cárites, deusas da beleza, e a deusa da persuasão ornaram seu pescoço com colares de ouro. Hermes, o mensageiro dos deuses, lhe concedeu a capacidade de falar, juntamente com a arte seduzir os corações através de discursos insinuantes. Depois que todos os deuses lhe deram seus presentes, ela recebeu o nome Pandora, que em grego quer dizer "todos os dons".

Finalmente, Zeus lhe entregou uma caixa bem fechada, e ordenou que ela levasse como presente a Prometeu. Entretanto, ele não quis receber nem Pandora nem a caixa, e recomendou a seu irmão, Epimeteu, que também não aceitasse nada vindo de Zeus. Epimeteu, cujo nome significa "aquele que reflete tarde demais", ficou encantado com a beleza de Pandora e a tomou como esposa.

A caixa de Pandora foi então aberta, e de lá escaparam a Senilidade, a Insanidade, a Doença, a Inveja, a Paixão, o Vício, a Praga, a Fome e todos os outros males, que espalharam pelo mundo e tornaram miserável a existência dos homens a partir de então. Epimeteu tentou fechá-la, mas só restou dentro a Esperança, uma criatura alada que estava prestes a voar, mas que ficou aprisionada hermeticamente na caixa.

O Mito de Pandora

Zeus – o deus supremo da mitologia grega - é fruto de uma complicada teogonia que se assemelha à genealogia humana. Bravo e vingativo, o deus dos gregos casou-se inúmeras vezes gerando uma sucessão de outros menores: Apolo, Hebe, Hermes, as Musas, etc.

Diz-se do estranho chefe do Olimpo que havia ódio em seu coração e que tinha prazer em castigar os homens. E que certa vez, para vingar-se de certo humano de nome Prometeu que roubara uma faísca do sol para com ela iluminar a inteligência dos homens, o mal humorado superintendente celeste resolve castigá-los fazendo-os se perder para sempre por meio de uma mulher extremamente bela, detentora de todos os dons, Pandora, a primeira mulher!

Ela é criada e enviada a Epimeteu (o que vê depois), embora Prometeu (o previdente) houvesse aconselhado seu irmão a não aceitar nenhum presente de Zeus de quem desconfiava muito. Ela traz consigo do Olimpo um presente de núpcias para Epimeteu: uma arca de ouro hermeticamente fechada.

Segundo Hesíodo, o poeta camponês, Pandora teria aberto a caixa levada pela curiosidade ,de onde saem todas as desgraças e calamidades para os homens que viviam tranqüilos e felizes até então. Ao fechá-la, rapidamente, conseguiu prender em seu interior a esperança que por séculos ficaria encerrada como uma promessa de retorno aos felizes e ditosos tempos da infância da espécie humana sobre a Terra.

A curiosa lenda traz consigo aspectos interessantes relacionados com outras lendas e crendices que fazem parte de outras culturas, e com muitos preconceitos que até hoje sobrexistem.

Sobre a curiosidade da primeira mulher, que muito tem a ver com a indiscrição, e que não é somente feminina, e suas conseqüências desastrosas , pode-se dizer que na história real do ser humano ela transformou-se num terrível defeito que tem causado muitas desgraças e calamidades; que conduz ao intrometimento, à indiscrição, à superficialidade, à vulgaridade, ao efêmero. Compreensível no homem pré-histórico e nas crianças, que de certa forma reproduzem a evolução da espécie desde os primeiros tempos, e também nos homens de ciência em suas investigações, é inaceitável para o homem de hoje quando o torna distante de si , atento a tudo quanto ocorre ao seu redor, mas alheio ao que ocorre com sua pessoa.

O mito de Pandora pode nos levar a muitas conclusões; desde a inutilidade de um deus vingativo até a necessidade de se transcender estados inferiores de evolução; a necessidade de rever os preconceitos que existem relacionados com a mulher, cuja graça e beleza não poderiam nunca ser invólucro do pecado e da desgraça especialmente encomendados por um Zeus duvidoso.

A esperança, providencialmente encerrada na caixa de Pandora, residiria na possibilidade da superação das condições humanas a partir da evolução pessoal de cada indivíduo que sentisse a necessidade de construir um mundo melhor para si e para a humanidade.

Nagib Anderáus Neto

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