QUE SOCIEDADE QUEREMOS FORMAR ?

Como bem fundamentou Hanna Arendt, (1906-1975) em “A Condição Humana”, o capitalismo criou uma sociedade operária. Não sendo mais suficiente para atender às exigências modernas, percebeu que esta sociedade de semianalfabetos, com pouca escolaridade, tornou-se um entrave aos interesses deste mesmo capitalismo, hoje de especulação financeira, de base tecnológica de produção e de concorrência mundial. Senão vejamos: para que um pais como o Brasil entre com força na voraz competição capitalista mundial, ele precisa de uma boa infraestrutura material (estradas, portos, transportes etc.). Um bom sistema tributário que desonere a produção e o comércio, e uma legislação que iniba os gastos com mão de obra ( salários diretos e indiretos, assistência previdenciária, etc.) isso associado a uma imprensa comprometida com os interesses deste capitalismo, sindicatos desmobilizados e fechando, com um povo pouco instruído, para evitar assim, contestações anti-capitalistas.

Mas, paradoxalmente, é emergencial ao capitalismo moderno brasileiro, que a mão de obra operária se qualifique tecnicamente um pouco mais para atender as novas exigências de concorrência global. E para isso o empresariado brasileiro quer que o operariado saia do nível de semianalfabeto e passe para o nível de analfabeto funcional ou de escolarização.

Ocorre que, o poder de alfabetizar está nas mãos das escolas e professores, sobretudo as públicas, que atendem a mais de 86% dos jovens e, no processo de alfabetização poderá se dar o processo de conscientização contra-ideológica-capitalista dos pretendidos futuros operários. Então o que fazer? Emergencialmente o empresariado através do chamado sistema “S” (SENAI, SENAC, SESC etc.) montou ele próprio “escolas” formadoras de mão de obra barata, com base em ensino técnico-funcional, uma espécie de capacitação emergencial para atender seus interesses imediatos de formação técnica de mão de obra.

Em seguida, passou a interferir nos governos mais diretamente, com “parcerias” de gestão empresarial para escolas, (cursos de gestão empresarial para Diretores(as) de Escolas, etc.), em alguns casos patrocinam atividades nas escolas, como a Rede Globo faz, e, até liberam verbas, como fazem alguns bancos. Em troca, exigem que os governos (financiados por eles) e as escolas se comprometam com a melhoria no ensino de Português e Matemática.

Aqui, é preciso uma atenção maior! Por que, Português e Matemática e não em todas as áreas como Geografia, História, Química, Filosofia, Sociologia? Acaso a educação se resume somente a essas duas disciplinas? Acaso o aluno não precisa da História para formar um senso crítico, social, político e transformar inclusive as condições histórico-dialéticas da sua condição política e de cidadania? Como formar um cidadão sem concepção histórica? Como formar um cidadão, com consciência ecológica, ambiental e conhecedor de sua nação e suas mazelas, sem a Geografia? Como formar um cidadão que valoriza a vida, as espécies, a natureza, o planeta, sem a Química e a Biologia? Como formar o ser Humano íntegro, sociável, capaz de pensar criticamente, refletir, avaliar, julgar, identificar e se defender das ideologias que o alienam e o escravizam? Como alcançar a autonomia intelectual de sujeito livre para decidir e escolher com critério ético e correto para si e para a humanidade, sem a Filosofia e a Sociologia? Então, por que governantes e empresários querem financiar exclusivamente o ensino de Português e Matemática e não o desenvolvimento Educacional na sua totalidade? - A consciência é a descoberta de si mesmo, condição para a descoberta de todo o resto,

Primeiro porque, este capitalismo entende ser capaz de controlar a aplicação destes dois saberes, no dito mercado de trabalho, conduzindo sua aplicação para os fins determinados por ele. Segundo, por que para o capitalismo – do tipo brasileiro, basta que o jovem operário saiba redigir um memorando ou ler e compreender as instruções técnicas dos manuais e apostilas para operar as novas máquinas e, também, calcular o troco no balcão. Um operário, jovem, acrítico, sem leitura social, política e consciência de seus direitos, mas, com competência para entender um pequeno parágrafo técnico e fazer as quatro operações básicas é o suficiente e adequado aos interesses de massificação e doutrinação que o capitalismo moderno precisa.

Resta a nós professores comprometidos com nossa causa e honestos com o princípio da Educação verdadeira nos perguntarmos: como devemos agir diante deste novo ataque à educação? Que tipo de sociedade queremos ajudar a formar?

Westerley Santos

Prof.Filosofia - 22/05/10.

TEMA: Política, Capitalismo, Educação

28-junho-2011

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