Homero

Os mitos gregos, recolhidos pela tradição, recebem forma poética e são transmitidos oralmente pelos cantores ambulantes conhecidos como aedos e rapsodos, que os recitam de cor em praça pública.

Dentre eles, destaca-se Homero, provável autor das epopeias Ilíada e Odisseia. A primeira trata da Guerra de Troia. Não é muito seguro que Homero tenha realmente existido, e pelo estilo dos dois poemas, alguns estudiosos julgam que são obras de autores diversos, de diferentes épocas.

Hesíodo, outro poeta que teria vivido por volta do século VIII a.C. produz uma obra com característica já voltada para a época que se inicia, ou seja, a busca da individualidade. Ainda assim, predomina a crença nos mitos.

Na época da aristocracia guerreira, descrita sobretudo nas epopeias de Homero, a educação visa a formação cortês do nobre.

A criança nobre permanece em casa até os 7 anos, quando é enviada aos palácios de outros nobres a fim de aprender, como escudeiro, o ideal cavalheiresco. Também são contratados preceptores, que dão uma formação integral baseada no afeto e no exemplo.

Para os homens gregos as crianças eram educadas para proferir palavras e realizar ações, isto é, para participar da assembleia dos nobres e atuar nas guerras.

No período arcaico, que se segue nos tempos homéricos, e também na época clássica, continua a prevalecer a influencia cultural das epopeias na educação. São elas que relatam ações dos deuses e transmitem os costumes, a língua, os valores éticos e estéticos. Durante anos figuras divinas serviram de modelo de excelência moral e física para jovens gregos.

De início os poemas são transmitidos oralmente e, mesmo com o advento da escrita, ainda são recitados de cor em praça pública, e seus textos oferecem os temas básicos de toda educação escolar.

http://www.webvestibular.com.br/revisoes/filosofia/biografias/homero.htm

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O mito de Homero e o nascimento da filosofia

O mito foi uma das primeiras formas de conhecimento do homem frente ao mistério do mundo que o permeiava; isso nos mostra que o homem não é o senhor de si; ele é independente do conhecido, porém torna-se dependente do que não é conhecido e sabido.

O poeta Homero, em A Odisseia, narra a jornada do herói Odisseu em sua provações para o retorno de sua pátria, Ítaca, depois da guerra contra os troianos. Odisseu, homem inteligente, arguto, forte e de perene coragem é posto em situações intensas a qual sua coragem se impõe nessas provações.

A relação dos deuses com o herói é caracterizada por um fato peculiar: a maneira que esses deuses se mostram e se aproximam dos mortais acontece não de forma sobrenatural, mas, ao contrário, de forma bastante natural, através da própria natureza, demonstrando a essência natural dos imortais.

A linguagem rica semanticamente, simbólica, metafórica nos coloca numa atmosfera sublime ao longo da narrativa da jornada do intrépido Odisseu. Curioso e interessante é a maneira que se mostra aspectos culturais na obra, que, só lembrando, tem cerca de dois milênios e meio.

Porém é muito difícil para o homem contemporâneo alcançar a compreensão em plenitude de Odisseia; a compreensão simbólica, da representatividade que foi a obra e para o posterior surgimento da filosofia; damos importância aos aspectos literário e histórico. Além do mais, a compreensão da palavra "mito" conota algo fantasioso, irreal, lendoso.

A palavra mito vem do grego mythos, que significa contar, narrar, descrever. É preciso entender a obra do poeta Homero no significado grego da palavra, se não correremos risco de não entender a obra por outras dimensões.

Essa difícil compreensão torna-se evidente nos pré-socráticos, ou pensadores originários. O surgimento da filosofia, na região da Jônia, na cidade de Mileto, nos coloca numa dimensão bastante diferente da nossa

realidade, nos deixando, as vezes, confusos na sua interpretação.

Tales, o primeiro filosofo, é também o primeiro a falar da physis, a questionar o principio primeiro que permeia as coisas, o todo. Sua doutrina baseada em que "tudo é água", tudo se origina através da umidade da água, a vida se inicia com a água.

A physis dos originários é o surgimento , a existência, o acontecer, o existir, a totalidade de tudo, a plenitude da existência, a flor, a árvore, a água, o pensamento, a ideia, o surgimento, o ar, tudo é physis; o desabrochar do existente e seus desdobramentos.

arqué é o princípio que tudo se origina, e tudo que surge, que nasce, o não estático, o dinâmico, a lei que rege e governa, a base e sustentação para o brotar, o nascer, o surgir. O princípio, a dinamicidade que nasce, lei perene que governa.

Anaximandro vai pensar a arqué da physis como justiça (diké) do cosmo. Anaximenes vai pensar a arqué no ar, em sua rarefação/condensação, no pneuma; "tudo é ar".

Já para Platão e Aristóteles a arqué passa a ser o thaumas; o thaumas é a arqué da filosofia. O thaumas é o espanto, a admiração, a partir do momento que se espanta e se admira com algo, esse espantar-se, admirar-se o conduziria ao exercício da filosofia, a procurar de explicações racionais, explicações cujo o mito não preenche mais as lacunas do questionamento, da dúvida, daí as discrepâncias dos conhecimento mítico do conhecimento filosófico; mito não é racional, não é confiável. Mas não podemos esquecer da suma importância do pensamento mítico para o homem grego e para a originação da própria filosofia e as consequências para toda cultura ocidental.

Renan Oliveira

http://renanentrelinhas.blogspot.com/2010/07/o-mito-foi-uma-das-primeiras-formas-de_10.html

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A descoberta do verdadeiro Homero em Giambattista Vico

A querela entre antigos e modernos sobre a origem do

verdadeiro Homero e a posição de Giambattista Vico

Resumo: Essa comunicação se reporta aos terceiro e quarto livros da obra: Ciência Nova de Giambattista Vico. No livro terceiro Vico procura resolver a questão entre Antigos e Modernos sobre Homero. Vico analisa a questão e propõe uma solução nova que rompe com Antigos e Modernos. Vico nega a poesia homérica enquanto filosofia. Aponta sua importância poética e sua excelência no que ser refere ao direito e a historia dos povos primitivos.

Os dois poemas homéricos Ilíada e Odisséia são vistos por Vico como fundamento formador do ethos social. As causas do mundo civil estão presentes nos poemas homéricos. A ciência nova , tem como objetivo a formação das relações dos fenômenos sociais. Para Vico era necessário um estudo das relações políticas, jurídicas e econômicas. A moral, a psicologia, a linguagem , as artes e a ciência também eram objeto de estudo de Vico.

Dirigindo-se a republica das letras Vico entra na discussão da questão homérica e traz inovações para a interpretação do contexto histórico em que surgem a Ilíada e Odisséia.

Para Vico Homero não é um homem, mas a criação de um povo. A importância dos poemas se deve exatamente a essa origem. Vico nega que Homero fosse filósofo, no sentido de ser dono de uma sabedoria rebuscada, singular. Ele (Homero) era possuidor de uma sabedoria poética que era comum nos tempos da Grécia barbara. De acordo com Vico Homero amava os deuses pela força . Homero também narrou costumes cruéis : envenenar as setas, não sepultar inimigos, o episodio do resgate do corpo de Heitor por Príamo das mãos de Aquiles. Se Homero fosse sábio não se deleitaria com tais costumes.

Vico comenta a mentalidade Barbara e o argumento da Ilíada: a desavença entre um soberano estúpido e herói rude. Os maiores personagens desse poema, são bastante inconvenientes para nossos parâmetros de civilidade. Homero fez muitas comparações a partir de feras e de outras coisas selvagens. Isso seria necessário para fazer-se entender pelo vulgo feroz e selvagem.

Tudo isso não poderia derivar de uma natureza domesticada e civilizada por alguma filosofia, não aquela truculência e ferocidade de estilo com que Homero descrevia várias e sanguinárias batalhas que particularmente fazem toda a sublimidade da Ilíada.

Além disso no caso da Ilíada, a não existência de valores abstratos como pátria, nem grandes interesses como a gloria das nações: nem uma e nem outra coisa movem Aquiles a prestar socorro aos aqueus. Vico concluiu que deve negar, portanto, a Homero toda espécie de sapiência riposta.(filosofia).

Em seguida, Vico trata do problema de saber qual teria sido a pátria de Homero.Quase todas as cidades gregas e mesmo da Itália disputavam a honra de sido a pátria de Homero. Vico mencionou que vários autores se esforçaram para provar que Homero era grego da Itália e não da Jônia (Vico, 1992§ 788). Essa discrepância de mundos suscita a hipotese de que o autor da Odisséia teria sido do ocidente da Grécia, e portanto não seria o mesmo que o autor da Ilíada, que muito provavelmente seria oriundo da Jônia. Haveria, então duas épocas poéticas, ambas mistificadas na pessoa de Homero.

A idade de Homero é um outro grande problema a causar dúvida. De acordo com o método aproximativo, Vico tentou encontrar, por meio de indícios presentes nos textos, parâmetros que determinassem sua idade. Por exemplo, Aquiles, nos funerais de Pátroclo, promoveu quase todas as modalidades de competição que mais tarde a Grécia celebrou nos jogos olímpicos. A arte de fundir já se encontrava no escudo de Aquiles. A pintura, porém, não tinha sido ainda encontrada. Nem Homero, nem Moisés teriam mencionado coisas pintadas. Os heróis homéricos se alimentavam de carne assada, alimento mais simples que qualquer outro, porque requer apenas brasas. Seus alimentos mais delicados foram talvez farinha de cevada, mel e peixes. Somente mais tarde surgiriam os alimentos cozidos, que necessitam de panela e tripé. Esses seriam indícios da antiguidade de Homero.

Vico argumenta que talvez Homero, não tenha conhecido o Egito. Tudo que é narrado, particularmente, na Odisséia acerca do Egito, da Líbia, da Fenícia, da Ásia, da Itália e da Sicilia, segundo Vico, procedem das relações que os gregos tiveram com os fenícios. Somente após os tempos romanos Numa, [o Romano] aproximadamente 400 anos depois da guerra de Tróia, é que o egípcio Psammético teria aberto o Egito à Grécia. Assim Vico conjectura que, ao longo desses quatrocentos anos, tais poemas foram por muitas cabeças trabalhados e carregados. Essa hipótese fundava-se no principio de que docilidade e crueldade não são coetâneos. Aqueles tantos e tão delicados costumes descritos acima seriam bem posteriores a outros selvagens e hostis.

A titulo de comparação, Vico esboçou a evolução da comédia grega no que diz respeito a formação dos caracteres poéticos. A comédia antiga tomava argumentos ou sujeitos verdadeiros e colocava-os na fábula, quais eram, como Aristófanes fez com Sócrates em sua comedia As Nuvens. Na nova comédia todos os personagens seriam fictícios.

Vico menciona o fato de que poetas latinos heróicos, sendo bárbaros e carecendo de reflexão, somente cantaram historias verdadeiras: as guerras romanas. E também nos tempos bárbaros retomados, na chamada Idade Média. Mesmo Dante, segundo Vico (Vico, 1992§817), por mais douto que fosse de sapiência riposta, em razão dessa mesma natureza da barbárie, a qual por defeito de reflexão não sabe fingir, expôs pessoas que existiram e representou verdadeiros fatos e, por isso, deu ao seu poema o titulo de comédia, a qual a antigo comédia grega punha personagens históricos e tramas.

Homero foi grande, pois assim o determinou sua ¨ natureza ¨ , poética; contudo , não se pode inferir que ele foi culto, uma vez que sua natureza provavelmente não foi delicada. Para Vico, seria impossível existir alguém poeta e metafísico de modo igualmente sublime, porque a metafísica abstrai a mente dos sentidos, e a faculdade poética imerge toda a mente neles; a metafísica eleva-se aos universais, a faculdade poética deve aprofundar-se dentro das particularidades.

Ponde Homero nos tempos do romano Numa e Psammético do Egito, Vico supôs que deve ter corrido muito tempo para que se chegasse a escrita. Até que isso acontecesse, os rapsodos seguiram conservando os poemas de memória; donde se entende o quanto esses épicos devem ter sido um amontoado confuso de episódios, ainda mais quando se vê a infinita diferença que se pode observar entre os estilos de um e de outro poema homérico. Eram tantas as variedades de dialetos, tantas inconveniências nas fábulas que devem ter sido vários os idiotismos dos povos da Grécia.

O filosofo de Nápoles sustentava a hipótese de que Homero foi todo esse processo histórico de transmissão oral da Guerra de Tróia até os tempos de Numa e Psammético. Com Homero, teria ocorrido o mesmo que com a Guerra de Tróia: talvez jamais tenha sido real . Da Guerra de Tróia , assim com de Homero, nada restou além de seus poemas.

Vico considerou que Homero foi um poeta como ideal, não um homem particular existente. Homero seria uma idéia ou caráter heróico de homem grego, que acompanhava a transmissão de seus poemas. Ele seria ao mesmo tempo um poeta-simbolo e dois poetas-individuos. Em outras palavras Vico sugeria que Homero fora composto por uma anterior turba de poetas populares menores e por dois posteriores grandes poetas, os quais, reelaborando poeticamente a matéria histórica passada, teriam-na transmitido, mesmo com os desgastes causados pela transmissão oral, mais ou menos sob a forma de como estão os dois poemas.

O filosofo napolitano refutou formalmente a existência de Homero, na medida em que a noção de autoria individual se vinculava a um tipo de conhecimento que de sapiência riposta. Para ele a Ilíada e a Odisséia eram obras do povo. O povo teria elaborado tanto quanto o poeta . Um era a voz; o outro o eco.

Com a sua teoria a respeito de Homero, Vico pretendia purgá-lo de três idéias equivocadas: a de que ele foi ordenador da civilidade grega, a de que ele foi a fonte da filosofia grega. A primeira seria equivocada pois, segundo Vico, muito antes desde os tempos de Deucalião e Pirra, os homens já começavam, com matrimônios, a fundar a civilidade grega. A segunda não procedia porque, como já foi dito houve duas fases da poesia heróica antes de Homero: na primeira floresceram aqueles que Vico chamou de poetas teólogos, isto é, aqueles que foram eles mesmos heróis e que cantaram fábulas verdadeiras e severas, a segunda foi a dos poetas heróicos que alteraram as fábulas e as corromperam. Os filósofos não encontraram as suas filosofias nas fábulas homéricas, mas, ao contrário, aí as introduziram.

Palavras chave: Ilíada, Odisséia, Homero, fábulas, filosofia, heróis, gregos, Grécia, Vico, civilidade, poesia, antigos e modernos.

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/39230/1/A-descoberta-do-verdadeiro-Homero-em-Giambattista-Vico/pagina1.html

Universidade Estadual do Ceará-Uece

Cmaf. Curso de Mestrado em Filosofia

Disciplina: Tópico especiais em Metafisica.

Prof. Dr. Expedito Passos

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