Fórum Econômico Mundial em Davos

Novo tipo de liderança para vencer a fadiga

23 de janeiro de 2012 | 3h 04

KLAUS , SCHWAB, FUNDADOR, PRESIDENTE EXECUTIVO DO FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

O Estado de S.Paulo

A síndrome de Burnout é um distúrbio associado ao esgotamento físico, estresse, pessimismo, cinismo, retraimento e isolamento. Se tais sintomas já são preocupantes num indivíduo, podem ser desastrosos na esfera das negociações mundiais. Ao se aproximar a Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, há uma inconfundível sensação de Burnout no ar. Espero que este ano a reunião possa contribuir para a formação de um novo modelo de liderança, capaz de sobrepujar esse mal.

Depois de um ano marcado por grandes convulsões políticas, muitos acham que estamos presenciando a desintegração do sistema global: crises financeiras e de dívidas; desemprego; paralisação política; desigualdade social; crises de alimento e energia; e por aí vai. Em face de tantos problemas simultâneos e inter-relacionados, nossos líderes estão sendo testados até o limite máximo. Ao mesmo tempo, os sistemas e as garantias que sustentam nossa existência como comunidade global estão lutando para enfrentar o complexo conjunto de riscos de nossos dias.

A reação costumeira a tudo isso é exigir uma liderança mais forte. No entanto, os eventos do ano que passou nos mostraram repetidamente os limites da liderança em sua forma tradicional. Preocupados com problemas internos, precipitando-se de uma crise para outra, os líderes obtiveram um progresso pouco evidente. Ao contrário, testemunhamos principalmente reparos temporários num mundo em rápido desmantelamento.

Não é de surpreender, portanto, que o cidadão comum esteja perdendo a confiança em nossos líderes. Os diversos movimentos mundiais de ocupação e da primavera árabe são sinais dessa frustração e ansiedade compreensíveis.

A necessidade de agir é urgente. Precisamos encontrar novos modelos de colaboração no enfrentamento de todos os desafios globais, assim como criar um novo modelo de liderança que seja eficaz no mundo moderno: uma liderança que enfatize tanto visão como valores, para superar os desafios atuais. Essa é a combinação que fornecerá aos líderes uma bússola que os guiará na tomada de decisões.

É preciso ter visão para interpretar e lidar de forma eficiente com um mundo globalizado. O progresso tecnológico, a interconectividade e a dispersão do poder têm contribuído para uma nova e complexa realidade, que requer uma percepção clara. Um sexto sentido, um feeling, também é imprescindível para que os líderes vislumbrem as oportunidades que estão à frente e as persigam meticulosamente, em vez de sucumbirem à paralisia do esgotamento.

São necessários valores para dar confiança e justificar as ações realizadas. Porém os valores de uma liderança verdadeira devem ir mais longe do que o simples lucro de curto prazo para o acionista ou as próximas eleições. Só assim ocorrerá a ligação verdadeira e a interação significativa entre o povo e seus líderes.

No mundo de hoje, tanto o poder como a informação estão amplamente dispersos, portanto as decisões só podem ser implementadas se as pessoas compreenderem a lógica por trás delas. A visão dá um motivo no longo prazo e os valores ditam uma direção e um objetivo.

É revelador que, a despeito do panorama econômico desolador, atingimos um número recorde de participantes para a Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial de 2012 em Davos. Isso deixa claro o fato de que os líderes sentem a necessidade de se reunirem a fim de tratarem, coletivamente e em colaboração, dos desafios globais amedrontadores que estão à nossa frente.

Davos dará uma oportunidade real às empresas, aos governos e à sociedade civil de aprimorar uma visão coletiva e descobrir valores em conjunto. Essa reunião anual será particularmente importante, se substituirmos nosso sistema de radar atual - de gerenciamento situacional de crises no curto prazo - por uma bússola que nos forneça direção e orientação precisas com base em valores no longo prazo.

O tópico mais importante nas mentes de todos em Davos será inevitavelmente o que abordará a reacomodação e a desalavancagem que estão reconfigurando a economia global. Mas não nos esqueçamos de que o propósito da reunião anual também é de assegurar que os líderes exerçam suas responsabilidades com integridade moral e que o espírito empresarial se comprometa com o interesse público.

O tema da reunião anual de 2012 é "A Grande Transformação: Criando Novos Modelos", precisamente porque estamos numa era de profundas mudanças que requer com urgência novas formas de pensar, em vez de simplesmente a repetição das antigas.

Liderança com base na visão e nos valores pode ir além da tarefa de reconquistar a confiança e superar o esgotamento, mas somente se os próprios líderes puderem provar, por meio de atos concretos, que responsabilidade social e obrigações morais não são meras palavras vazias.

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