Vázquez

Adolfo Sánchez Vásquez

RECORTE

Artigo de María Rosa Palazón Mayoral

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Adolfo Sánchez Vázquez é um filósofo prolífico que refinou suas argumentações ao longo de muitos anos. Fiel a sua convicção libertária, elevou constantemente sua voz de protesto porque, disse: “o importante é como se está na terra”. Em 1961, apresentou como tese de doutorado, a qual considera sua obra maior, Filosofia da práxis. Desde então, uma de suas ambições tem sido que se supere “o dogmatismo e a esclerose que durante longos anos havia suavizado o viés crítico e revolucionário do marxismo” (1985: 11). Editou a Filosofia da práxis em 1967; depois de numerosas reimpressões, tal “fio crítico” o obrigou a eliminar na reedição (1980) colocações que já não compartilhava sobre a essência e a alienação humanas para adentrar nas propostas filosóficas e econômicas do jovem Marx. E este processo de revisão não termina até a última edição em 2003, na qual refaz e precisa a absolutização do proletariado como a classe majoritária que dominará a terra e protagonizará a derrota do capitalismo, assim como sua ojeriza pela palavra “utopia”, herdada dos ataques que este mesmo filósofo alemão escreveu contra os chamados socialistas utópicos, e, por último, deixa para trás sua antiga paixão concordante com as reminiscências positivistas do Marx aficionado com a palavra “ciência” (e seu método nomológico-dedutivo, ou segundo quantitativas leis probabilísticas), que ao longo dos séculos XIX e parte do XX concebeu-se como a possuidora da Verdade absoluta, no lugar da religião. Tampouco Sánchez Vázquez acreditava que a história universal transcorra linearmente pelas mesmas fases ou estados, mas sim que as marchas históricas são complexas e, em boa parte, únicas. Como se isso não fosse pouco, o divisor de águas da invasão de Tchecoslováquia pelo Pacto de Varsóvia, aparelhado com os movimentos estudantis democratizadores, que em 1968 repudiaram o marxismo-leninista dogmático, lhe ensinaram a duvidar, a criticar (Sánchez Vázquez, 2003: 38) e se auto-criticar como demonstra em Ciência e revolução (o marxismo de Althusser), Filosofia e economia no jovem Marx (os Manuscritos de 1844) e em sua Ética.

Esse filósofo hispano-mexicano chegou à conclusão de que o pensamento de Marx mais vigente é estruturalista, ou melhor, sistêmico: “uma concepção estruturalista da história” (Sánchez Vázquez, 1985: 24) que contempla as realidades sociais como totalidades ou conjuntos estruturados de maneira tal, que se uma parte é alterada, altera-se o todo. Logo, é necessário estudar os vínculos do todo com suas partes, e vice-versa. Em cada conjunto estruturado existem normas hierarquicamente determinantes (que os estruturalistas e Marx chamavam “sistema”), ainda que tais normas sejam heterogêneas e até incoerentes, razão pela qual, graças a sua posta em prática, nenhuma sociedade permanece estável. No entanto, estas contradições do código são seus modos normais de operar: não operam como uma máquina coordenada com perfeição, senão que a ordem prevalecente sofre alterações substanciais (em um tempo histórico longo ou curto). Logo, não basta analisar nossas organizações sociais mediante cortes sincrônicos absortos na realização de um código, mas sim preocupar-se em entender como se rompe sua relativa estabilidade, e quis são a gêneses e os processos evolutivos de uma nova ordem sob outras normas, isto é, entender a história ou, se assim se prefere, a diacronia. As normas, uma abstração explicativa, não se mudam elas mesmas (não são seres vivos); suas mudanças devem-se aos comportamentos de pessoas que puderam marcá-las (ainda que agora desconheçamos seu nome). Ao estudar cada sociedade, hierarquizam-se os fatores determinantes dos processos históricos e os indivíduos ou agentes da mudança (com freqüência as autoridades políticas máximas não são as mais influentes). Portanto, enfocar sincronicamente o código como se carecesse de alterações profundas é uma hipóstase. Tampouco o caráter histórico da realidade em questão é isolável de sua origem e desenvolvimento.

Alguns trabalhos não se interessam pelos aspectos diacrônicos: “A prioridade do estudo das estruturas sobre sua gênese e evolução é inegável quando a investigação se propõe fazer a teoria de um sistema ou todo estruturado” (Sánchez Vázquez, 1985: 29).

Porém, qualquer teoria completa requer observar o factual: é mister que repare na unicidade histórica concreta. O marxismo, uma filosofia para a mudança, tem que se alijar de abstrações ontologizantes que nada explicam da vida e das vivências que têm ocorrido ou podem ocorrer em um espaço-tempo, e saber que cada fenômeno histórico tem um caráter singular, irrepetível. Por exemplo, se os Estados são instrumentos das classes dominantes, devemos dizer que no capitalismo têm existido os bonapartistas, cuja tendência é mediar entre as classes que existem sob sua jurisdição. No caso de nossa América, sempre com uma vocação antiimperialista, temos a: Lázaro Cárdenas no México; Arbenz na Guatemala; o primeiro Cheddi Jagam na Guiana; Torrijos no Panamá, Goulart no Brasil. O marxismo nutre-se com a história para enriquecer as teorias que perduram e descartar aquelas que não estão na ordem do dia.

Sánchez Vázquez sustenta sua perspectiva da práxis como categoria central do marxismo: “continuamos pensando que o marxismo é antes de tudo e originariamente uma filosofia da práxis, não só porque brinda a reflexão filosófica com um novo objeto, mas sim especialmente por ‘quando do que se trata é de transformar o mundo’ forma parte como teoria, do processo de transformação do real” (Sánchez Vázquez, 1980: 12), processo interminável. Em suma, para nosso filósofo, nascido em Algeciras, Espanha, e nacionalizado mexicano, o marxismo é uma nova práxis da filosofia e uma filosofia da práxis.

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