Carta 16

Há quem viva meia-vida ou porque nega a vida toda ou porque não percebe a dimensão do que é viver. De qualquer modo, renuncia à vivência e vive superficialmente em um mundo de aparências e ilusões. E para que o seu mundo não se desmorone e o deixe sem abrigo, dá a ele uma concretude imaginária, tida como real e crê nesta pseudo-realidade, de tal forma que não admite questioná-la, nega lançar o olhar para além desta parede de fundo falso e assim limita sua vida a meias-vivências. Acostumado neste lugar, onde só há espaço para a manifestação das emoções corpóreas, não consegue mais ouvir o que pede a voz do espírito e nem sentir as manifestações da alma e do coração – justamente a parte não corpórea que dá plenitude à vida e o faz ser, distinto de uma planta ou de uma pedra. Há quem viva meia-vida e pensa estar vivendo, quando na verdade está petrificando a própria vida e apedrejando vidas outras.

Agosto, de 2000

Westerley

Carta Filosófica Nº 16