Carta 09

EIS AS MAZELAS da desigualdade social desintegrando a plenitude da unidade humana.

Pergunto: o que é a pobreza senão uma conseqüência máxima dos homens que geram e impõem aos seus iguais uma distinção aparente, baseada na posse de propriedades, bens e riquezas materiais? Por acaso o homem nativo da ilha da utopia, onde não há os valores materiais-econômicos de posse, propriedade, poder e fama, deixaria, por isso, de ser humano? Deixaria esse homem de ser igual aos de sua espécie? E este homem seria ontologicamente superior ou inferior aos demais de sua terra? Não!

Não há neste lugar os símbolos de poder, riqueza e fama que nos servem aqui de parâmetros para exaltar ou menosprezar o outro; essa é uma mazela que rege as relações entre os homens de nossa sociedade. Ocorre que tanto naquela quanto nesta, somos iguais, carentes sim, superiores não. Seres passionais, singulares que se unem no amor, elemento da unidade humana.

Mas o amor é potência, não ato, e os homens deste tempo não são nativos da ilha da utopia, são criaturas de uma civilização centrada na desigualdade social e na distinção entre os iguais.

É nesta terra da realidade aparente, que o amor, potência humana, sofre os ataques dos conceitos sociais e não se efetiva em ato. Por estar afetado pela estupidez que valoriza o ser humano não pelo que ele é mas sim pelo que ele tem ou faz parecer ter.

E aquilo, cujo coração é o símbolo, é substituído por aquilo cujo símbolo é o cifrão.

Janeiro, de 2000

Westerley

Carta Filosófica Nº 09

Pode um preconceito social,

impedir o amor, um preceito

Universal?