OPINIÃO - Conceito de ideologia - Donizete

O conceito de ideologia [não]* vem de Marx: ele simplesmente o retomou. Ele foi literalmente inventado (no pleno sentido da palavra: inventar, tirar de cabeça, do nada) por um filósofo francês conhecido, Destutt deTracy, discípulo de terceira categoria dos enciclopedistas, que publicou em 1801 um livro chamado Elements d'Ideologie. É um vasto tratado que, hoje em dia, ninguém tem paciência de ler. Para se ter uma idéia do pouco interesse que representa esse livro, basta dizer que, para ele, ideologia é um sub-capítuio da zoologia. A ideologia, segundo Destutt de Tracy, é o estudo científico das idéias e as idéias são o resultado da interaçao entre o organismo vivo e a natureza, o meio ambiente.

É portanto, um sub-capítulo da zoologia – que estuda o comportamento dos organismos vivos - no que se refere ao estudo do relacionamento dos organismo vivos com o meio ambiente, onde trata da questão dos sentidos, da percepção sensórial, através da qual se chegaria as idéias. É por esse caminho que segue a análise, de um cientificismo materialista vulgar, bastante estrito, que caracteriza essa obra de Destutt de Tracy.

Alguns anos mais tarde, em 1812, Destutt e seu grupo, discípulos de todos do enciclopedismo francês, entraram em conflito com Napoleão que, em um discurso em que atacava Destutt de Tracy e seus amigos, os chamou de ideólogos. No entanto, para Napoleão, essa palavra já tem um sentido diferente; os ideólogos são metafísicos, que fazem abstraçâo da realidade, que vivem em um mundo especulativo.

Deste modo, paradoxalmente, Destutt e seus amigos, que queriam fazer uma análise científica materialista das ideologias, fora, chamados de ideólogos por Napoleão, no sentido de especuladores metafísicos e, como Napoleão tinha mais peso, digamos, ideológico, que eles, foi a sua maneira de utilizar o termo que teve sucesso na época e que entrou para o linguajar corrente.

Quando Marx, na primeira metade do século XIX, encontra o termo em jornais, revistas e debates, ele está sendo utilizado em seu sentido napoleônico, isto é, considerando ideólogos aqueles metafísicos especuladores, que ignoram a realidade. É nesse sentido que Marx vai utilizá-lo a partir de 1846 em seu livro chamado A Ideologia Alemã.

É esse o caminho tortuoso do termo: começa comum sentido atribuído por Destutt, que depois é modificado por Napoleão e, em seguida, é retomado por Marx que, por sua vez, lhe da um outro sentido. Em A Ideologia Alemã, o conceito de ideologia aparece como equivalente à ilusão, falsa consciência, concepção idealista na qual a realidade é invertida e as idéias aparecem como motor da vida real. Mais tarde Marx amplia o conceito e fala das formas ideológicas através das quais os indivíduos tomam consciência da vida real, ou melhor, a sociedade toma consciência da vida real. Ele as enumera como sendo a religião, a filosofia, a moral, o direito, as doutrinas políticas, etc.

Para Marx, claramente, ideologia é um conceito pejorativo, um conceito crítico que implica ilusão, ou se refere a consciência deformada da realidade que se dá através da ideologia dominante: as idéias das classes dominantes são as ideologias dominantes na sociedade.

Mas o conceito de ideologia continua sua trajetória no marxismo posterior a Marx, sobretudo na obra de Lênin, onde ganha um outro sentido, bastante diferente: a ideologia como qualquer concepção da realidade social ou política, vinculada aos interesses de certas classes sociais.

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