Carta 06

Carta Filosófica Nº 06

O limbo é o lugar nenhum

e fica entre a verdade e a mentira.

No “PALCO da maravilha e da miséria”, os atores não deveriam se relacionar como personagens. Pelo simples fato de já estarem, impostamente em um grande teatro, sem que lhes fosse dado a opção de escolher se queriam ou não participar desta peça tragicômica. Por isso, devem buscar, a todo custo, viver autenticamente.

Mas, o grande teatro apresenta-lhes vários cenários por onde obrigatoriamente devem apresentar-se. E o grande público, ávido pela encenação, espera afoito o que os atores vão representar esta noite.

Eles podem apresentar o real ou representar o fictício, é o conflito entre a verdade e o falso. Então, eis-nos diante do conflito da existência, uma dúvida em que devemos decidir rapidamente entre o autêntico e o inautêntico, pois o espetáculo está em andamento. Iremos apresentar a nós mesmos ou representar a outros que não somos? Penso, que se cedermos ao apelo do público, estaremos ao tempo, nos distanciando de nós mesmos a cada encenação. Até tornar as nossas personagens seres "reais" o suficiente para nos sucumbir neste palco de miséria. E vivermos uma falsa realidade por assim dizer, com o agravante de já não termos mais a consciência de ser falsa ou não, e passarmos a crer, contundentemente, que aquelas personagens e aquela encenação são agora verdadeiras. -É o início do fim de nós mesmos- e do que queremos. Sermos então, parte de uma massa que não tem forma, como tudo que não se distingue pela verdade. -Entre o real e o ilusório está o lugar nenhum.

Dezembro, de 1999

Westerley